Rom. 6:12-14 - Oferecendo-nos a Deus
“Portanto, não permitam que o pecado reine em seu corpo mortal, fazendo com que vocês obedeçam às suas paixões. Também não ofereçam os membros do corpo ao pecado, como instrumentos de injustiça, mas, como pessoas que passaram da morte para a vida, ofereçam a si mesmos a Deus e ofereçam os seus membros a Deus, como instrumentos de justiça. Porque o pecado não terá domínio sobre vocês, pois vocês não estão debaixo da lei, e sim da graça”.
Uma das maiores dificuldades no caminho do crescimento espiritual é o desconhecimento teórico do que somos em Cristo. Paulo deseja que saibamos que já morremos para o pecado e que estamos vivos para Deus em Cristo (Rm 6:1-10); que, com base nisso, nos consideremos assim no dia a dia (Rm 6:11). Agora ele dá um passo adiante e nos ensina que devemos, como consequência, colocar em prática estas verdades. Ou seja, não devemos permitir que o pecado reine em nós, nem que ofereçamos nossos corpos a ele, mas a Deus (Rm 6:12-14).
Estes versículos (Rm 6.12-14) concluem a prática de toda a doutrina explicada nos versos 1 a 11, como a palavra "portanto" indica. Notemos que: (a) Não podemos entrar na aplicação prática sem primeiro entender a doutrina. (b) Toda doutrina deve levar a uma conclusão prática.
Estes versos são um mandamento dirigido aos crentes. Isso implica algumas coisas. (a) No processo de crescimento espiritual, há uma parte a ser efetuada pelo crente. O mandamento é dirigido à nossa vontade. Não é, como alguns ensinam, "deixar Deus fazer tudo". Há uma ordem a cumprir, e deve ser cumprida por nós; (b) O crente pode cumprir este mandamento, pois já está morto para o pecado e vivo para Deus.
"Dizer a um escravo não libertado: 'comporte-se como livre' é zombar da sua escravidão; mas dizer o mesmo a um escravo libertado é um apelo necessário para que ele ponha em prática os privilégios e direitos de sua libertação" (J. Murray).
Este mandamento tem duas partes: uma negativa e outra positiva.
A parte negativa tem dois aspectos: (1) "Não reine o pecado em vosso corpo mortal" (6:12a). Aqui temos o princípio geral de que o pecado é personificado como um patrão que domina em nosso corpo mortal (físico). Embora eu já tenha morrido para o pecado, meu corpo mortal (físico) é a sede da moradia do pecado. Não devo, portanto, deixá-lo dominar meus membros, paixões, desejos, pois já morri para ele. Uma coisa é o pecado morar em meu corpo; outra é deixá-lo reinar. (2) "Nem ofereçais cada um os vossos membros ao pecado como instrumento da iniquidade" (6:13a). "Nossos membros" são todas as faculdades físicas, morais, psicológicas e espirituais que temos. O pecado procura usá-las constantemente como meios através dos quais espalhar a iniquidade, como um soberano empenhado numa guerra e recrutando instrumentos para lutar por ele. A proibição de Paulo é oferecermos nossos membros ao pecado com este fim. "Nem mesmo permitir uma oportunidade para isso, nem fazer provisões para tal e muito menos encorajar o pecado a fazê-lo" (Lloyd-Jones). A razão é que isso nos levaria à iniquidade, tudo que é contrário a Deus.
A parte positiva: "Oferecei-vos a Deus" (6:13). Só podemos fazer isso por estarmos vivos para Deus em Cristo. Descrentes, mortos em seus pecados, não podem fazê-lo. Significa entregar-nos totalmente a Deus para que Ele nos use no seu plano eterno de avançar o Seu Reino sobre a terra. Nossos membros devem ser "instrumentos de justiça".
Este mandamento, tanto negativo como positivo, é possível, pois está apoiado no fato de que "o pecado não terá domínio sobre nós" (8:14a). É possível, pois o crente está sob a esfera da graça salvadora e santificadora e não mais da lei que condena (6:14b).
São muitas as aplicações que poderíamos tirar do texto. Algumas delas: (a) Não há valor em discutir doutrinas se não as aplicarmos; (b) O crente já está morto para o pecado e o pecado jamais terá domínio sobre ele; (c) Entretanto, o pecado ainda reside em seu corpo mortal e se o crente deixar, poderá usar os seus membros para a iniquidade; (d) Baseado na obra de Cristo, o crente pode resistir ao pecado e oferecer-se a Deus para servi-Lo; (e) Santificação não é obra instantânea, mas um processo que envolve "saber, considerar-se e oferecer-se".
Augustus Nicodemus.
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