segunda-feira, 5 de maio de 2025

A Declaração de Cambridge: Um Chamado ao Arrependimento e à Reforma

Um Apelo à Igreja Evangélica

No dia 20 de abril de 1996, a Aliança de Evangélicos Confessantes divulgou a Declaração de Cambridge, um documento que expressa profunda preocupação com o estado das igrejas evangélicas contemporâneas. A declaração começa com uma forte afirmação de que muitas igrejas evangélicas hoje são mais influenciadas pelo espírito da época do que pelo Espírito de Cristo.

A Crise da Identidade Evangélica

A Declaração de Cambridge aponta para uma mudança preocupante no significado da palavra "evangélico". Historicamente, o termo unia cristãos de diversas tradições eclesiásticas, ancorados nas verdades essenciais do cristianismo articuladas pelos grandes concílios ecumênicos e nos "solas" da Reforma Protestante do século XVI. No entanto, a declaração lamenta que a luz da Reforma tenha diminuído significativamente, a ponto de o termo "evangélico" se tornar tão abrangente que perdeu seu significado. Isso representa um perigo real de perder a unidade construída ao longo de séculos.

Os Cinco Solas e a Erosão da Verdade

A declaração reafirma o compromisso com as verdades centrais da Reforma e do evangelicalismo histórico, não por tradição, mas por sua centralidade bíblica. Ela então se aprofunda em cinco preocupações principais, cada uma focada em um dos "solas" da Reforma:

  1. Sola Scriptura (Somente a Escritura): A Declaração de Cambridge lamenta que a igreja evangélica moderna separou a Escritura de sua função de autoridade. Em vez disso, a igreja é frequentemente guiada pela cultura, com técnicas terapêuticas, estratégias de marketing e entretenimento exercendo influência indevida. A pregação bíblica foi negligenciada, levando a uma perda de integridade, autoridade moral e direção na igreja. A declaração reafirma a Escritura como a única regra infalível da vida da igreja e nega que qualquer credo, concílio ou experiência espiritual pessoal possa substituir sua autoridade.

  2. Solus Christus (Somente Cristo): A secularização da fé evangélica levou a uma confusão com os interesses da cultura, resultando em perda de valores absolutos, individualismo permissivo e substituição de conceitos bíblicos essenciais. Cristo e sua cruz foram afastados do centro da visão evangélica. A declaração reafirma que a salvação é realizada unicamente pela obra mediadora do Cristo histórico, e que seu sacrifício expiatório é suficiente para justificação e reconciliação.

  3. Sola Gratia (Somente a Graça): A confiança indevida na capacidade humana permeia o mundo evangélico, diluindo a doutrina da justificação. A graça de Deus em Cristo é a única causa eficiente da salvação, e os seres humanos são espiritualmente mortos, incapazes de cooperar com a graça regeneradora. A declaração reafirma que a salvação é pela graça de Deus somente, um ato sobrenatural do Espírito Santo que nos liberta da escravidão do pecado e nos ressuscita para a vida espiritual.

  4. Sola Fide (Somente a Fé): A justificação é somente pela graça, somente por meio da fé, somente por causa de Cristo. Esta doutrina essencial é frequentemente ignorada, distorcida ou até negada por líderes evangélicos. A mentalidade moderna alimenta essa rejeição do evangelho bíblico, levando muitos a priorizar compreensões sociológicas em detrimento da verdade bíblica. A declaração reafirma que a justificação é somente pela graça, somente por meio da fé, somente por causa de Cristo, com a justiça de Cristo imputada a nós como a única satisfação possível da justiça divina.

  5. Soli Deo Gloria (Glória Somente a Deus): Onde a autoridade bíblica se perde, Cristo é deslocado, o evangelho é distorcido ou a fé é pervertida, é porque os interesses humanos substituíram os de Deus. A centralidade de Deus na vida da igreja de hoje diminuiu, levando à transformação do culto em entretenimento, da pregação do evangelho em marketing e da fé em técnica. Deus existe para satisfazer ambições humanas. A declaração reafirma que a salvação é de Deus e para a glória de Deus, e que toda a vida deve ser vivida diante da face de Deus, sob sua autoridade e para sua glória somente.

Um Apelo ao Arrependimento e à Reforma

A Declaração de Cambridge contrasta a fidelidade da igreja evangélica no passado com sua infidelidade no presente. Embora o século XX tenha sido marcado por esforços missionários significativos e pelo estabelecimento de instituições religiosas, o mundo evangélico de hoje está perdendo sua fidelidade bíblica, bússola moral e zelo missionário.

A declaração conclama ao arrependimento da mundanidade, à rejeição dos "evangelhos" seculares e ao retorno à Palavra de Deus. Ela também adverte contra ensinamentos errôneos, como a crença na salvação fora da fé explícita em Jesus Cristo, o aniquilacionismo e a aceitação do catolicismo romano sem uma doutrina bíblica de justificação.

A Aliança de Evangélicos Confessantes conclama todos os cristãos a considerar a implementação desta Declaração no culto, ministério, políticas, vida e evangelismo da igreja, para a glória de Cristo. Amém.

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