quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

A compreensão errônea da doutrina da criação por Marcião e os gnósticos | Pb. Evandro Marinho

Marcião (um teólogo do século II) e os gnósticos deturparam a doutrina cristã da criação ao separarem o Deus do Antigo Testamento do Deus do Novo Testamento. Para eles, o Deus do AT era um demiurgo, responsável por uma criação material imperfeita, enquanto o Deus do NT era visto como o verdadeiro Deus espiritual, enviado para libertar os seres humanos dessa realidade material inferior (Geisler & Nix, 2021; Feinberg, 2018). 

Essa visão dualista rejeitava a bondade intrínseca da criação, indo contra Gênesis 1:31, que afirma que Deus viu tudo o que criou e considerou "muito bom".

Resultados práticos dessa compreensão

  1. Dualismo: Essa filosofia dividia o mundo entre o espírito (bom) e a matéria (má), levando a uma rejeição das responsabilidades humanas em relação ao mundo físico.
  2. Ascetismo: Alguns gnósticos defendiam uma vida de renúncia extrema ao mundo material como forma de alcançar a "libertação espiritual" (Merrill, 2011; Feinberg, 2018).
  3. Rejeição da ética bíblica: Ao considerarem a matéria corrupta, eles desprezavam o corpo e desconsideravam os preceitos morais relacionados à vida terrena.

Dualismo e Ascetismo

  • Dualismo: É a crença na existência de dois princípios opostos e independentes — espírito e matéria, com o primeiro sendo bom e o segundo, mau. Essa visão mina a doutrina cristã da criação, que afirma que Deus criou todas as coisas boas.
  • Ascetismo: É a prática de abster-se de prazeres materiais ou corporais para buscar pureza espiritual. Enquanto o ascetismo cristão busca disciplina, o gnóstico o utiliza para rejeitar a criação material como algo essencialmente corrupto (Blomberg, 2016).

Implicações para ciência e tecnologia

Como o cristianismo afirma que a criação não é divina, mas boa e ordenada por Deus, isso permitiu uma abordagem racional para o estudo do mundo. As implicações incluem:

  1. Desenvolvimento da ciência: A visão cristã da criação encorajou o estudo sistemático da natureza, entendida como uma revelação geral de Deus (Greenwood, 2015).
  2. Progresso tecnológico: A crença em um universo ordenado e racional deu suporte à ideia de que a natureza poderia ser manipulada para o benefício humano, respeitando os mandatos culturais dados por Deus em Gênesis 1:28.

Conclusão

A visão de Marcião e dos gnósticos levou a uma rejeição da criação e de sua bondade intrínseca, promovendo um dualismo e ascetismo que contrastam com a doutrina bíblica. Por outro lado, a visão cristã permitiu o avanço científico e tecnológico, fundamentada na confiança de que o mundo criado é ordenado, bom e digno de estudo.

Referências

  • Blomberg, Craig L. The Historical Reliability of the New Testament. B&H Academic, 2016.
  • Feinberg, John S. Light in a Dark Place: The Doctrine of Scripture. Crossway, 2018.
  • Geisler, Norman L., e Nix, William E. Introdução Geral à Bíblia. Edições Vida Nova, 2021.
  • Greenwood, Kyle. Scripture and Cosmology: Reading the Bible Between the Ancient World and Modern Science. InterVarsity Press, 2015.
  • Merrill, Eugene H., et al. The World and the Word: An Introduction to the Old Testament. B&H Academic, 2011.

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