O visionário não é um romântico desconectado com a realidade da vida, mas um trabalhador engajado numa lida acima da mediocridade. Neemias, copeiro do rei Artaxerxes e governador de Jerusalém, desponta como um exemplo clássico de um líder visionário. No ano 586 a.C., a cidade de Jerusalém foi conquistada pelos caldeus. Os muros da cidade foram arrasados, as portas queimadas e o templo incendiado. O povo foi passado ao fio da espada, levas de cativos foram conduzidos como escravos para a Babilônia e os que foram deixados para trás amargaram longo período de desprezo e miséria. A cidade de Jerusalém, rodeada de inimigos, ficou cento e quarenta e dois anos debaixo de escombros. A cidade tornou-se um emblema de vergonha aos olhos das nações. Mesmo depois que os judeus retornaram da Babilônia, a cidade não conseguiu reerguer-se das cinzas.
Foi durante uma visita de Hanani a Neemias, na cidade de Susã, que este fez uma pergunta àquele e a história da cidade da paz, vitimada pela guerra, foi completamente mudada. Neemias vislumbrou a restauração da cidade, mesmo estando distante dela há centenas de quilômetros. Ele colocou-se nas mãos de Deus para reverter aquele quadro desolador. Seu idealismo não foi inconsequente, pois estava estribado no poder da visão, que brota não do frágil braço humano, mas da força que emana do Deus onipotente. Neemias demonstra o poder da visão através de alguns expedientes:
Em primeiro lugar, o poder da visão precisa proceder de um correto diagnóstico do problema a ser enfrentado.
Neemias antes de tirar os escombros da Jerusalém, tirou os escombros do seu coração. Ele se assentou para chorar, orar e jejuar. Reconheceu que a crise não era resultado apenas dos ataques dos caldeus, mas, sobretudo, dos pecados do seu povo. Em vez de apenas lançar libelos acusatórios contra os seus pais, admitiu que fazia parte dessa mesma família culpada e assim, confessou seus pecados e os pecados do seu povo, buscando o perdão divino. Antes de enfrentar os dramas externos, precisamos enfrentar os problemas internos. Antes de espanar a poeira dos escombros que nos rodeiam, precisamos limpar a fuligem da nossa própria alma.
Em segundo lugar, o poder da visão precisa vir acompanhado de ajuda do céu e do auxílio da terra.
Neemias compreendeu que ninguém faz grandes coisas sem a ajuda de Deus e ninguém pode ser relevante sem buscar a ajuda dos homens. Ele orou a Deus e pediu ajuda ao rei Artaxerxes. Ele pediu proteção para a viagem e recursos para começar a reconstrução dos muros de Jerusalém. Ele inspecionou a obra e mobilizou todas as pessoas para se lançarem na obra. Ele mobilizou e encorajou. Ele delegou e fiscalizou. Ele liderou e protegeu. Fez tudo com oração e diligência. Enfrentou os inimigos de fora e os de dentro com coragem desassombrada.
Em terceiro lugar, o poder da visão capacita a enfrentar as armas dos adversários.
Os inimigos de Jerusalém ficaram furiosos quando souberam que alguém estava interessado em reconstruir a cidade. Usaram todas as suas armas. Colocaram em marcha todas as suas artimanhas. Lançaram mãos de todo o seu arsenal. Deixaram vazar seu ódio. Zombaram dos trabalhadores. Ameaçaram matar os obreiros. Espalharam boatarias. Tentaram destruir a reputação de Neemias. Sob ameaças, chamaram-no para um acordo. Cooptaram líderes religiosos para mancharem a hora do governador. Neemias, porém, manteve-se inabalável. Sua consciência iluminada pela verdade e governada pelo nobre ideal, deu-lhe força moral para prosseguir fazendo a obra a despeito das ameaças externas e dos perigos internos.
Em quarto lugar, o poder da visão dá disposição para prosseguir até completar a obra.
Neemias restaurou os muros de Jerusalém em apenas cinquenta e dois dias. O impossível aconteceu. A cidade renasceu das cinzas. O povo que estava em grande miséria e desprezo recobrou o ânimo. Os inimigos ficaram frustrados e humilhados. Um novo horizonte surgiu. Uma nova página foi escrita. O futuro foi antecipado. Deus foi honrado. O povo da aliança foi restaurado. Tudo isso porque um homem se colocou nas mãos de Deus para dar sua vida pelo ideal. Sua visão tornou-se realidade!
Por: Rev. Hernandes Dias Lopes
Fonte: Igreja Presbiteriana de Vitória do Espírito Santo
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