sexta-feira, 17 de setembro de 2021

A íntima União Entre Cristo e o Crente | J. C. Ryle

Leia João 15.1-6 

Esses versículos, precisamos lembrar com atenção, contêm uma parábola. Ao interpretá-la, não podemos esquecer a grande regra que se aplica a todas as parábolas de Cristo. O ensino geral de todas elas é a primeira verdade a ser observada. Não precisamos insistir sobre os pequenos detalhes, interpretando-os em excesso, ao ponto de achar um significado para todos eles. São muitos e imensos os erros em que os crentes têm caído por negligenciar esta regra. 

Primeiramente, esses versículos nos ensinam que existe íntima união entre Cristo e o crente. Ele é a “videira”, os crentes são os “ramos”. A união entre os ramos e o caule principal de uma videira é a mais íntima que podemos imaginar. Nisso consiste o segredo de toda a vida, beleza, vigor e fertilidade do ramo. 

Se for desligado do caule, o ramo não possui vida em si mesmo. A seiva que flui através do caule é a fonte e o poder que mantém todas as folhas, botões, flores e frutos. Arrancado do caule, logo o ramo há de secar e morrer. 

A união entre Cristo e o crente tanto é íntima quanto verdadeira. Em si mesmos, os crentes não possuem vida, poder e vigor espiritual. Tudo que possuem em sua vida espiritual procede de Cristo. Eles são pessoas que vivem, se comportam e agem como crentes, porque recebem de Cristo um contínuo suprimento de graça, auxílio e capacidade. 

Unidos pela fé ao Senhor Jesus, em uma misteriosa união realizada pelo Espírito Santo, os crentes permanecem firmes, andam e percorrem a jornada da vida cristã. Mas qualquer sinal de bondade existente neles procede de seu Cabeça, o Senhor Jesus Cristo. 

Este pensamento produz conforto e instrução. Os crentes não têm motivo para sentirem-se desesperados quanto à sua salvação, imaginando que nunca chegarão ao céu. Devem meditar sobre o fato de que não foram deixados a viver por si mesmos, na dependência de seu próprio poder. Sua raiz é Cristo; tudo que existe na raiz tem em vista o benefício dos ramos. Se Cristo vive, eles também viverão. Os incrédulos não devem se admirar da perseverança e firmeza dos crentes. Embora sejam fracos, a raiz dos crentes está nos céus e jamais morrerá. “Quando sou fraco”, disse o apóstolo Paulo, “então é que sou forte” (2 Co 12.10). 

Em segundo, esses versículos nos ensinam que existem tantos os falsos quanto os verdadeiros crentes. Existem ramos na videira que parecem estar unidos ao caule principal, mas não produzem qualquer fruto. São homens e mulheres que aparentam ser membros do corpo de Cristo, porém no último dia ficará comprovado que não possuíam qualquer união com Ele. 

Nas igrejas, há miríades de pessoas que professam ser crentes, mas sua união com Cristo é apenas exterior e formal. Alguns deles pensam estar unidos a Cristo por causa do batismo ou por serem membros de igreja. Alguns deles vão muito além disso, tornando-se membros que participam da Ceia do Senhor e conversam com entusiasmo sobre as coisas espirituais. Mas falta-lhes algo necessário. Apesar de participarem dos cultos, ouvirem os sermões, terem sido batizados e participarem da Ceia do Senhor, não possuem a fé, a graça divina e a obra do Espírito Santo em seus corações. Não estão unidos a Cristo, e Ele não está nestas pessoas. Sua união com Cristo é apenas nominal e não verdadeira. Tais pessoas têm nome de que vivem mas, aos olhos de Deus, estão mortas. 

Este tipo de crente está apresentado na figura dos ramos da videira que não produzem fruto. Inúteis e desagradáveis, estes ramos servem ape nas para serem cortados e queimados, pois nada recebem da seiva do caule e não produzem resultado em troca do lugar que ocupam na videira. Assim ocorrerá no último dia aos crentes falsos, que apenas professam o nome de Cristo. 

Se não se arrependerem, seu fim será a eterna condenação. Ficarão eternamente separados da companhia dos verdadeiros crentes e, à seme­lhança dos ramos secos e inúteis, serão lançados no fogo eterno. Por fim, descobrirão que, não importando o que eles pensam neste mundo, existe o verme que não morre e o fogo inextinguível. 

Em terceiro, esses versículos nos ensinam que os frutos do Espírito são a única evidência satisfatória de alguém ser um verdadeiro crente. O discípulo que “permanece” em Cristo, assim como o ramo que permanece na videira, produz muito fruto. 

Aquele que deseja saber o significado do vocábulo “fruto” logo achará a resposta. Arrependimento para com Deus, fé em nosso Senhor Jesus Cristo, santidade de vida e de conduta — isto é o que o Novo Testamento chama de fruto. Estas marcas caracterizam a pessoa que vive como genuíno ramo da “videira verdadeira”. Se não tivermos estas coisas, em vão confessaremos que possuímos a graça divina e vida espiritual. 

Não existe vida onde não há frutos. Aquele que não possui estas virtudes, embora es­teja vivo, encontra-se morto. 

A verdadeira graça, não podemos esquecer, jamais é infrutífera. Não dorme, nem cochila. Em vão supomos que somos membros do corpo de Cristo, se o exemplo dEle é a única evidência satisfatória da união salvado­ra que existe entre nossa alma e o Senhor Jesus. Não existe a verdadeira vida espiritual no coração em que não podemos ver o fruto do Espírito. O Espírito de vida em Cristo Jesus sempre se manifestará na vida e conduta diária daqueles em quem Ele habita. O próprio Senhor Jesus declarou: “Cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto” (Lc 6.44). 

Por último, esses versículos nos ensinam que Deus frequentemente levará o crente a progredir em santidade através das providências que utiliza em seu lidar com ele. Está escrito: “Todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda”. 

O significado destas palavras é evidente. Assim como o viticultor po­da e apara os ramos de uma vinha frutífera, a fim de tomá-la mais frutífera, assim também Deus purifica e santifica os crentes através das circunstâncias da vida em que Ele os coloca.

Falando sinceramente, as provações são o instrumento pelo qual nosso Pai celestial toma o crente mais santificado. Por meio destas, Ele desperta nos crentes suas virtudes passivas e comprova se eles são capazes de suportar a vontade dEle, tão bem quanto o fazê-la. 

Por meio das provações, Deus os afasta do mundo, atraindo-os a Cristo, aproximando-os da Bíblia e da oração, fazendo-os conhecer seus próprios corações e tomando-os humildes. Este é o processo pelo qual Deus “limpa” os crentes e os toma mais fru­tíferos. As vidas dos santos de todas as épocas são o melhor e mais verdadeiro comentário desse texto. Raramente encontramos um crente, do Antigo ou do Novo Testamento, que não foi purificado por meio de sofri­mentos e, à semelhança de seu Mestre, não foi “um homem de dores”. 

Aprendamos a ser pacientes nos dias de trevas, se realmente conhe­cemos a união vital com Cristo. Sempre lembremos a doutrina ensinada nessa passagem, para que não murmuremos e queixemos por causa das aflições. 

Nossas provações visam fazer-nos o bem. Deus “nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade” (Hb 12.10). Fruto é algo que nosso Senhor deseja ver em nós; por isso, se achar necessário, utilizará a podadeira. 

J. C. Ryle 
Meditações no Evangelho de João 
Editora Fiel

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