sexta-feira, 8 de novembro de 2024
segunda-feira, 21 de outubro de 2024
O Cristão e a Tecnologia | Augustus NIcodemus
Em primeiro lugar, devemos lembrar que toda a criação, inclusive o uso da tecnologia, deve ser usada para a glória de Deus. A Confissão de Fé de Westminster e o Breve Catecismo, que resumem bem a doutrina reformada, afirmam que o "fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre". Isso significa que, como cristãos, devemos perguntar como nosso envolvimento com redes sociais e IA reflete este propósito de glorificação a Deus. Isso abrange desde os conteúdos que criamos até o tempo que gastamos consumindo essas mídias. O apóstolo Paulo nos ensina em 1 Coríntios 10:31: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus.” Essa exortação se aplica perfeitamente ao cenário das redes sociais e à tecnologia: como o uso dessas ferramentas pode glorificar a Deus?
No que diz respeito ao conteúdo que consumimos e produzimos, a Bíblia nos adverte sobre a autenticidade e a verdade. O nono mandamento é claro ao proibir o falso testemunho (Êxodo 20:16). Nas redes sociais, onde é fácil apresentar uma imagem distorcida de si mesmo, de influenciar os outros por motivações egoístas ou enganosas, devemos nos questionar sobre a veracidade do que estamos comunicando. O que estamos promovendo em plataformas como TikTok e Instagram é verdadeiramente honesto e fiel ao padrão de Cristo? Efésios 4:25 nos lembra: “Pelo que, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros.” A busca por seguidores e engajamento não deve nos levar a comprometer a autenticidade e o testemunho cristão.
Além disso, o conceito de micro e nano influenciadores — indivíduos com menos seguidores, mas com forte influência em nichos específicos — traz à tona a questão da responsabilidade e da influência. A Bíblia fala da grande responsabilidade daqueles que influenciam outros. Em Tiago 3:1, somos advertidos: “Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo.” No mundo digital, onde qualquer pessoa pode ser um influenciador, essa responsabilidade se torna ainda mais séria para o cristão. Devemos ser luz nas redes sociais, refletindo o caráter de Cristo, ao invés de sermos levados pelas pressões de sucesso mundano.
Finalmente, a monetização de conteúdo nas redes sociais pode apresentar uma tentação significativa para buscar o lucro acima de tudo. O oitavo mandamento, que nos adverte contra o furto (Êxodo 20:15), também pode ser interpretado no contexto de ações que exploram ou prejudicam outros para ganho financeiro. Mateus 6:24 nos lembra que não podemos servir a Deus e ao dinheiro. A busca pela monetização não deve comprometer a ética cristã. Devemos perguntar se o conteúdo que estamos produzindo para monetizar promove valores bíblicos ou se está distorcido pela busca de lucro e fama.
Além disso, a ascensão da Inteligência Artificial traz uma série de preocupações éticas, especialmente em relação à criação de conteúdo autêntico e verdadeiro. A Bíblia nos ensina que Deus é o criador e sustentador da vida, e qualquer avanço tecnológico deve ser usado com sabedoria e temor diante do Senhor. A providência de Deus sobre todas as coisas (Salmo 103:19) nos lembra que Ele está no controle da história e dos avanços tecnológicos. O cristão deve, portanto, usar a IA e outras tecnologias com responsabilidade, evitando que essas inovações se tornem ídolos que controlam nossas vidas e distanciam-nos de nossa missão de glorificar a Deus.
quarta-feira, 16 de outubro de 2024
Quem eram os Puritanos | Ewerton B. Tokashiki
O Puritanismo foi um movimento que surgiu dentro do protestantismo britânico no final do século 16. A Inglaterra estava separada da submissão papal, mas não da doutrina, liturgia, e ética católica. O rei inglês Henry VIII por motivos pessoais, e não por convicção teológica liderou uma reforma política no Reino Unido (Inglaterra, Escócia, Irlanda e País de Gales) que defendia o rompimento com a Igreja Católica Romana, vindo a originar-se a Igreja Anglicana.
O monarca inglês faleceu e o seu filho, Edward VI, tornou-se rei em seu lugar. O jovem regente inglês possuía conselheiros influenciados pela Reforma protestante. Alguns teólogos e professores foram convidados para liderar a Reforma na Inglaterra. Entretanto, este projeto não foi adiante, pois o novo rei veio a falecer prematuramente. A sua irmã mais velha, Mary Tudor, a sanguinária, que ao assumir o trono promoveu perseguição, prisões, exílio e a morte de todos os protestantes, restaurando o catolicismo romano no Reino Unido.
Em 1559, Elizabeth sucedeu à sua meia-irmã Mary Tudor. A nova rainha da Inglaterra era simpatizante da Reforma. Ainda em 1559, solicitou a revisão do Livro Comum de Oração, e editou em 1562, os 39 Artigos de Fé[1] como padrão doutrinário da Igreja Anglicana.[2] Autorizou a volta dos reformadores ingleses exilados. Todavia, os que retornaram estavam insatisfeitos com a lenta e parcial Reforma eclesiástica que Elizabeth estava realizando.
Justo L. González comenta que os que foram expulsos “trouxeram consigo fortes convicções calvinistas, de modo que o Calvinismo se estendeu por todo o país.”[3] Eles haviam contemplado o que os princípios da Reforma poderiam fazer em outros países, agora estavam comprometidos em aplicá-los em sua terra natal.
Os que defendiam que a Igreja Anglicana carecia duma completa Reforma foram apelidados jocosamente de "puritanos". De fato, os puritanos acreditavam que a igreja inglesa necessitava ser purificada dos resquícios do romanismo. Eles clamavam por pureza teológica, litúrgica, e moral! Henrique VIII embora discordasse da Igreja Católica acerca dos seus divórcios, ele morreu sustentando o título de Defensor da fé Católica. Mas, os puritanos também ansiavam por mudanças litúrgicas, pois, mesmo a Inglaterra se declarando protestante, a missa ainda era rezada em latim, eram usadas as vestimentas clericais, velas nos altares, e o calendário litúrgico e as imagens de santos eram preservadas. Era uma incoerente ofensa aos reformadores ingleses.
A começar pela liderança da Igreja, a prática do evangelho não estava sendo observada. Os puritanos exigiam não apenas mudanças externas, religiosas e políticas, mas mudança de valores que fossem manifestos numa ética que agradasse a Deus conforme a Palavra de Deus. Foi por causa deste último ponto que o apelido puritano tornou-se mais conhecido. Eles eram considerados puros demais, porque queriam ter uma vida cristã coerente com a Escritura! Infelizmente, uma caricatura horrível é feita deste movimento. Não poucas vezes os puritanos são criticados e mencionados com desdenho; entretanto, isto apenas evidencia a ignorância acerca da grandiosidade da obra e esforço destes homens e mulheres. Muitos perderam a sua vida por serem zelosos com o estudo e ensino das Escrituras Sagradas, por viver consistentemente o puro evangelho de Cristo![4]
O presbiterianismo é herdeiro direto deste movimento. Os Padrões de Fé de Westminster são produto da melhor erudição e piedade puritana do século 17. Os presbiterianos que migraram para os EUA eram todos puritanos. Eles eram crentes piedosos que praticavam a oração fervorosa, o culto sóbrio e equilibrado norteado pelo princípio regulador, o estudo da Escritura e a pregação da Palavra de Deus, tanto pelo ensino como por uma vida simples, eram marcas que distinguiam estes homens, que influenciaram o Cristianismo europeu e norte-americano, e que chegou até ao Brasil, através do missionário Rev. Ashbel G. Simonton.
1. D.M. Lloyd-Jones, Os Puritanos - suas origens e seus sucessores (PES).2. J.I. Packer, Entre os Gigantes de Deus - uma visão puritana da vida cristã (Editora Fiel).
3. Leland Ryken, Santos no Mundo - os puritanos como realmente eram (Editora Fiel).
domingo, 22 de setembro de 2024
A vida na igreja local - Somos uma Igreja Presbiteriana, e agora? (Aula 4) | Rev. Joel Theodoro
- Somos Uma Igreja Presbiteriana, e agora? (Aula 1): História do Presbiterianismo.
- História da IPB - Somos Uma Igreja Presbiteriana, e agora? (Aula 2).
- Governo e Aspecto Conciliar - Somos uma Igreja Presbiteriana, e agora? (Aula 3).
- A vida na igreja local - Somos uma Igreja Presbiteriana, e agora? (Aula 4).
Governo e Aspecto Conciliar - Somos uma Igreja Presbiteriana, e agora? (Aula 3) | Rev. Joel Theodoro
- Somos Uma Igreja Presbiteriana, e agora? (Aula 1): História do Presbiterianismo.
- História da IPB - Somos Uma Igreja Presbiteriana, e agora? (Aula 2).
- Governo e Aspecto Conciliar - Somos uma Igreja Presbiteriana, e agora? (Aula 3).
- A vida na igreja local - Somos uma Igreja Presbiteriana, e agora? (Aula 4).
História da IPB - Somos Uma Igreja Presbiteriana, e agora? (Aula 2) | Rev. Joel Theodoro
- Somos Uma Igreja Presbiteriana, e agora? (Aula 1): História do Presbiterianismo.
- História da IPB - Somos Uma Igreja Presbiteriana, e agora? (Aula 2).
- Governo e Aspecto Conciliar - Somos uma Igreja Presbiteriana, e agora? (Aula 3).
- A vida na igreja local - Somos uma Igreja Presbiteriana, e agora? (Aula 4).
Somos Uma Igreja Presbiteriana, e agora? (Aula 1): História do Presbiterianismo | Rev. Joel Theodoro
- Somos Uma Igreja Presbiteriana, e agora? (Aula 1): História do Presbiterianismo.
- História da IPB - Somos Uma Igreja Presbiteriana, e agora? (Aula 2).
- Governo e Aspecto Conciliar - Somos uma Igreja Presbiteriana, e agora? (Aula 3).
- A vida na igreja local - Somos uma Igreja Presbiteriana, e agora? (Aula 4).
sábado, 31 de agosto de 2024
QUANDO CHEGAM AS TEMPESTADES (Mateus 8:25-26)
quarta-feira, 26 de junho de 2024
O DIA DE PENTECOSTES - Em que pentecostais e reformados concordam e discordam.
O que era Pentecostes?
Pentecostes era a festa dos judeus celebrada 50 dias após a Páscoa. E foi durante uma celebração destas que o Espírito Santo de Deus veio sobre os apóstolos e os 120 discípulos em Jerusalém, cerca de 50 dias após a morte do Senhor, de acordo com Atos 2:1-4. Os cristãos se interessam pela data, portanto, por este motivo e não pela festa de Pentecostes em si.
A descida do Espírito naquele dia marcou o início da Igreja Cristã. Todavia, este que foi um evento da mesma magnitude que a morte e a ressurreição do Senhor Jesus, acabou se tornando motivo de polêmicas e controvérsias em meio à Cristandade, apesar de existir um bom número de pontos em comum entre os evangélicos sobre Pentecostes.
Em que pentecostais e reformados concordam?
Podemos, por exemplo, concordar que a vinda do Espírito representou o início da Igreja Cristã. Concordamos que ele veio para capacitar os discípulos com poder para poderem pregar o Evangelho ao mundo, que Ele habita na Igreja de Cristo, isto é, em todos que são realmente regenerados. Confessamos que Ele concede dons espirituais ao povo de Deus, que Ele nos ilumina, santifica, guia e consola em nossas tribulações.
Concordamos que devemos buscar a plenitude do Espírito mediante a oração. Cremos que nossos pecados entristecem o Espírito. Sabemos que o Espírito nos sela para a salvação, que é o penhor, a garantia que Deus nos dá de que haveremos de herdar o Seu Reino.
Todavia, em que pese este consenso não pequeno, permanecem diferenças de entendimento sobre diversos aspectos da obra do Espírito e o significado histórico-teológico de Pentecostes. Vamos encontrar homens de Deus, sérios, dedicados e usados por Deus em lados diferentes. Ainda que brevemente, vou enumerar algumas destas diferenças e expressar a minha opinião.
Pontos de divergência
1) Quanto ao significado histórico de Pentecostes.
Para muitos, o que aconteceu em Pentecostes é um paradigma, um modelo e um padrão para hoje. Estes entendem que a descida do Espírito, o revestimento de poder e as línguas faladas pelos apóstolos estão hoje à disposição da Igreja exatamente como aconteceu naquele dia no cenáculo em Jerusalém. Os que assim acreditam se caracterizam pela busca constante desta experiência. Para eles, a Igreja ficou sem o Pentecostes por quase dois mil anos, e foi somente em 1906, no chamado avivamento da Rua Azusa 312, em Los Angeles, Estados Unidos, que Pentecostes retornou à Igreja, e tem se repetido constantemente entre os cristãos de todo o mundo.
Do outro lado há os que pensam diferente, como eu, por exemplo, mas que creem que podemos experimentar a plenitude e o poder do Espírito Santo hoje. Desejo isto e busco isto constantemente. Todavia, não creio que cada enchimento que eu ou outro irmão venhamos a ter é uma repetição de Pentecostes, mas sim uma apropriação pessoal daquele evento, que aconteceu de uma vez por todas e que não tem como se repetir.
Pentecostes foi o cumprimento das promessas dos profetas do Antigo Testamento de que o Messias derramaria Seu Espírito sobre Seu povo. Foi assim que Pedro entendeu, ao dizer que a descida do Espírito era o cumprimento das palavras de Joel (Atos 2). Pentecostes é um evento da história da salvação e à semelhança da morte e da ressurreição de Cristo, ele não se repete. E da mesma forma que hoje continuamos a nos beneficiar da morte e da ressurreição do Senhor, continuamos a beber e a nos encher daquele Espírito que já veio de uma vez por todas ficar na Igreja. E eu creio que neste ponto podemos todos concordar.
2) Quanto à nomenclatura da plenitude do Espírito
Não há consenso, igualmente, em como designar o enchimento do Espírito. Alguns irmãos chamam a experiência de plenitude e revestimento de poder de "batismo com o Espírito". Outros, entre os quais me incluo, não estão certos de que esta designação é a mais correta. Ninguém discute que devemos buscar esta plenitude. Eu quero ser sempre cheio do Espírito. Mas não acho que devamos chamar o enchimento de "batismo".
Meus motivos para isto estão num artigo que escrevi comparando a posição de John Stott e Martyn Lloyd-Jones (é só procurar na internet). Fico com Lloyd-Jones que enfatiza a necessidade de buscarmos este enchimento como uma experiência distinta da conversão, mas fico com Stott em não chamá-la de batismo. Apesar da diferença de nomenclatura, acredito que estamos juntos neste ponto, que todos precisamos nos encher constantemente do Espírito de Deus.
3) Quanto aos sinais miraculosos que aconteceram em Pentecostes
Há diferença também quanto aos sinais miraculosos que acompanharam a descida do Espírito no dia de Pentecostes, conforme Atos 2. Alguns acreditam que falar em línguas é o sinal externo da descida do Espírito sobre uma pessoa. Assim, buscam esta experiência constantemente e encorajam os novos convertidos a fazer o mesmo.
Eu, contudo, não encontro na Bíblia evidência suficiente que me convença que a plenitude do Espírito sempre será seguida pelo falar em línguas e que devemos buscar falar em línguas como um dos melhores dons. Em Pentecostes houve outros sinais além das línguas, como o som de um vento impetuoso e a aparição de línguas de fogo, sinais estes que aparentemente não são repetidos nas experiências de hoje (salvo desinformação de minha parte).
A minha dificuldade e de muitos outros é que não conseguimos ver nas cartas do Novo Testamento qualquer orientação, ordem ou direção para que aqueles que já são crentes busquem o batismo com o Espírito seguido pelas línguas. O que eu encontro são ordens para nos enchermos do Espírito, andarmos no Espírito, vivermos no Espírito e cultivarmos uma vida no Espírito. Bem, este ponto é mais controverso e acirra mais os ânimos do que os anteriores. Ainda assim existe o consenso entre nós de que sem os dons do Espírito a Igreja não tem como realizar sua missão aqui neste mundo.
Lamento tão somente que, apesar de termos tanta coisa em comum quanto ao Espírito, acabemos divididos por uma atitude de arrogância espiritual por parte daqueles que acham que somente eles conhecem o Espírito, e pela atitude de soberba daqueles que se consideram teologicamente superiores aos que vivem à base de experiências.
Minha oração é que todos os que verdadeiramente creem no Senhor Jesus e o amam de todo o coração, apesar das diferenças, glorifiquem ao Pai e ao Filho por terem enviado o Espírito Santo para santificar, capacitar e usar a Sua Igreja neste mundo.
Rev. Augustus Nicodemus