sexta-feira, 16 de março de 2012

Cinco Pecados que Ameaçam os Calvinistas: Parte 5 - O Pecado do Isolamento

Viver no Passado ou Estudá-lo?
O isolamento é um pecado que está sempre a nos rondar. Ocalvinista verdadeiro não é aquele que vive no passado mas o que procuraaplicar as doutrinas bíblicas reveladas à sua situação, ao seu contexto. O seuapreço pela história e pelos reformadores não procede de um interesse meramente“arqueológico”.

A Abordagem do Antiquário
Martin Lloyd-Jones nos alerta para um perigo que existedentro do interesse pelos acontecimentos que marcaram a Reforma e nossa herançapuritana. Na realidade, ele nos confronta com uma forma errada e uma formacerta de relembrar o passado, do ponto de vista religioso. (12)

A forma errada, seria estudar o passado por motivosmeramente históricos. Esse estudo seria semelhante à abordagem que umantiquário dedica a um objeto. Por exemplo, quando ele examina uma cadeira, elenão está interessado se ela é confortável, se dá para se sentar bem nela, seela cumpre adequadamente a função de cadeira. Basicamente a preocupação seresume à sua idade, ao seu estado de conservação e, principalmente, a quempertenceu. Isto determinará o valor daquele objeto para ele e, conseqüentemente,o seu estudo é motivado por esta visão. O estudo errado da história ocorre,muitas vezes, em função dessa abordagem do antiquário.

O Alerta de Jesus, Registrado por Mateus
Em Mateus 23.29-35 teríamos um exemplo desse apreço erradopelo passado. O trecho diz:

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque edificaisos sepulcros dos profetas e adornais os monumentos dos justos, e dizeis: Setivéssemos vivido nos dias de nossos pais, não teríamos sido cúmplices noderramar o sangue dos profetas. Assim, vós testemunhais contra vós mesmos quesois filhos daqueles que mataram os profetas. Enchei vós, pois, a medida devossos pais.
Serpentes, raça de víboras! como escapareis da condenação doinferno? Portanto, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas: e a unsdeles matareis e crucificareis; e a outros os perseguireis de cidade em cidade;para que sobre vós caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra,desde o sangue de Abel, o justo, até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias,que mataste entre o santuário e o altar.

Jesus diz que aquelas pessoas pagavam tributo à memória dosprofetas e líderes religiosos do passado. Eles prezavam tanto a história, quecuidavam e enfeitavam os sepulcros. Proclamavam a todos que os profetas eramhomens bons e nobres e atacavam quem havia rejeitado os profetas. Diziam eles:“se estivéssemos lá, se vivêssemos naquela época, não teríamos feito isso!” MasJesus não se impressiona e os chama de hipócritas! A argumentação de Jesus é aseguinte: Se vocês se dizem admiradores dos profetas, como é que estão contraaqueles que representam os profetas e proclamam a mesma mensagem que elesproclamaram? Ele testa a sinceridade deles pondo a descoberto a atitude nopresente para com aqueles que hoje pregam a mensagem de Deus e mostra que elespróprios seriam perseguidores e assassinos dos proclamadores da mensagem dosprofetas.

O Nosso Teste
Esse é também o nosso teste: uma coisa é olhar para trás elouvar homens famosos, mas isso pode ser pura hipocrisia se não aceitamos, nopresente, aqueles que pregam a mensagem de Lutero e de Calvino. Somos mesmoadmiradores da Reforma, daqueles grandes profetas de Deus? Se não aplicamos navida prática as doutrinas reformadas o nosso interesse é apenas o de antiquários.Estamos promovendo e encorajando o pecado do isolamento, com esse tipo de visãoda história?

A forma correta de relembrar o passado
Mas existe uma forma correta de relembrar o passado.Deduzimos esta não apenas por exclusão e inferência do texto anterior mas porque temos um trecho na Palavra de Deus—Hebreus 13.7-8, que diz: “Lembrai-vosdos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus, e, considerandoatentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram. Jesus Cristo é o mesmo,ontem, e hoje, e eternamente.”

As doutrinas são de Cristo. Ele e os seus ensinamentos, sãoos mesmos ontem, hoje, e eternamente. A maneira correta de relembrar a Reformaé, portanto, verificando a mensagem, a palavra de Deus, como foi falada, e issonão apenas por um interesse histórico de “antiquário” mas para que possamosimitar aquela fé demonstrada. Devemos observar aqueles eventos e aqueleshomens, para que possamos aprender deles. Vamos verificar como eles aplicaramas doutrinas eternas aos seus dias e vamos seguir os seus exemplos discernindoa essência da sua mensagem e aplicando-a aos nossos dias.

Deus é Sempre Contemporâneo em Seu Falar
Não podemos, portanto, viver num mundo isolado, demonstrandofalta de aproximação com a nossa igreja, com os nossos irmãos, com o nossopovo, com a nossa realidade.

Hebreus 1.1-4 mostra que Deus fala de forma diferente atempos diferentes. O cerne da mensagem não muda. Nos nossos dias, a revelaçãoescriturada está completa e não estamos defendendo a existência de novas revelações.Entretanto, reconhecemos que Deus sempre demonstrou querer falar com o homemnos seus termos. Na Palavra de Deus temos os muitos antropomorfismos –descrições figurativas da pessoa de Deus, em características de homem. Isso éum exemplo de como Deus condescende em chegar até o homem.

Paulo enfatiza a necessidade da comunicação eficaz,indicando que fez-se fraco, para os fracos; judeu, para os judeus; e gentio,para os gentios (1 Co 9). A linguagem das escrituras era o grego comum, faladopelo povo que diferia tanto do grego clássico, da literatura, que durantemuitos anos estudiosos bíblicos postulavam que era um tipo de “grego sagrado”.Se Deus chega-se até ao homem, nas suas limitações e circunstâncias,objetivando a melhor comunicação, porque pensamos que devemos fazer os crenteschegar até estilos e formas que não são mais nossas? Porque prejudicamos aeficácia da nossa comunicação? Porque cristianizamos estilos e formas que nãofluem da Bíblia, mas pertenceram a uma época? Porque nos tornamos antiquáriosem vez de usuários e aplicadores práticos das verdades de Deus? Lembremo-nosque Deus tem a palavra certa, na certeza de sua palavra, para a ocasião certa,na hora certa. Supliquemos a Ele que nos livre do pecado do isolamento.

Minha oração é que nós, calvinistas, possamos ser conhecidostanto por nossa doutrina firme, sadia, segura, intransigente, quanto por nossoamor fraternal, por nossa gentileza, por nossa dedicação no estudo e por nossaaplicação veraz e eficaz das sãs doutrinas, ao nosso tempo. Que não apliquemosesses alertas aos nossos conhecidos ou vizinhos, mas que possamos realmente,com sinceridade, buscar a presença de Deus e verificar se não estamos sendoalvo das ciladas de Satanás, caindo nesses cinco, ou mais pecados.

(12) D. M. Lloyd-Jones, Rememorando a Reforma (S. Paulo:PES, 1994) pp. 2-5.

Sequência: [Introdução][1ªParte][2ªParte][3ªParte][4ªParte][5ªParte]

Por: Solano Portela
Fonte: solanoportela.com

Este livreto foi publicado no site da 1a Igreja Presbiteriana do Recife contendo uma versão preliminar publicana na revista "Os Puritanos". A versão publicada aqui é a completa. Este texto completo foi publicado pela Editora PES e pode ser adquirido através do site da editora:
http://www.editorapes.com.br

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