O conceito de livre-arbítrio, à luz da exposição de Martinho Lutero em seu livro Nascido Escravo, é uma ilusão incompatível com a doutrina bíblica da salvação. Lutero argumenta que a vontade humana, longe de ser livre, encontra-se em escravidão ao pecado, à carne e à vontade de Satanás.
Romanos 3 declara enfaticamente: "Não há justo, nem um sequer... não há quem busque a Deus" — o que nega qualquer capacidade natural do homem para voltar-se voluntariamente a Deus.
A ideia de livre-arbítrio pressupõe que o homem, mesmo em seu estado caído, possui em si algum poder para escolher o bem espiritual ou buscar a Deus. No entanto, as Escrituras e a experiência universal revelam que, deixado a si mesmo, o homem inevitavelmente se afasta de Deus. Lutero destaca que o próprio propósito da lei não é indicar um caminho possível de justiça pelas obras, mas sim mostrar o pecado, esmagar o orgulho humano e conduzir o pecador à graça.
Se o livre-arbítrio fosse real, haveria mérito humano na salvação, o que contradiz frontalmente textos como Romanos 3.24, onde lemos que os crentes são “justificados gratuitamente, por sua graça”.
O livre-arbítrio, portanto, não apenas é incapaz de cooperar com a graça, mas, segundo Lutero, é uma expressão da justiça própria que compete com a obra de Cristo. A salvação é totalmente pela fé, mediante a graça soberana, sem que o homem possa dar sequer o primeiro passo em direção a Deus por sua própria vontade.
Negar o livre-arbítrio não é negar responsabilidade, mas é afirmar que toda a esperança do pecador repousa fora dele mesmo — no chamado eficaz e na regeneração operada pelo Espírito Santo. A liberdade verdadeira não está na vontade caída, mas na libertação que Cristo concede aos seus. Assim, todo louvor pertence a Deus, que “faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade” (Ef 1.11), e não ao homem, cuja vontade, sem Deus, é apenas escravidão.
Augustus Nicodemus
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