sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Sua Igreja Pode Não Ser Tão Centrada No Evangelho Quanto Você Pensa


Nota do Editor: 
As “outras abordagens” neste artigo são categorias originárias de Femi Osunnuyi, que pastoreia uma igreja da Atos 29 em Lagos, Nigéria.
O livro de Romanos trata de mais coisas além da “Estrada dos Romanos”. Não é um livro apenas sobre a salvação individual (embora certamente comunique esta mensagem gloriosa). É também um livro sobre comunidades centradas no Evangelho e missões centradas no Evangelho.
Michael Bird diz que Paulo estava “saturando com o Evangelho”, os crentes em Roma. Desejava que cada aspecto de suas vidas fosse moldado e fortalecido pelo Evangelho. Isso se reflete especialmente na segunda metade do livro. Portanto, Romanos se destaca como um grande livro a ser considerado, não apenas por sua clareza teológica, mas também pelas ideias esclarecedoras sobre uma liderança centrada no Evangelho.
Antes de falarmos sobre os benefícios da centralidade do Evangelho, é importante entender como ela difere de outras abordagens:

Igrejas Que Negam o Evangelho

Estas não devem ser chamadas de igrejas. Várias seitas e posições extremas de liberalismo se encaixariam nesta categoria. Elas negam as verdades essenciais do Evangelho.

Igrejas Redefinidoras do Evangelho

Relacionadas com a categoria anterior, estas acrescentam ou subtraem coisas do Evangelho. Exemplos incluem a “teologia da prosperidade” e o “evangelho social”.

Igrejas que Presumem o Evangelho

Essas igrejas dizem que crêem no Evangelho, mas raramente o pregam clara e profundamente. É o “cristianismo light”. Palestras de liderança, sermões terapêuticos e mensagens de melhoria prática são com o que se ocupam.

Igrejas que Afirmam o Evangelho

Tal como o grupo anterior, essas igrejas crêem no Evangelho doutrinariamente, mas o Evangelho serve apenas para o evangelismo, e é segmentado para fora da vida da igreja.

Igrejas de Proclamação do Evangelho

Essas igrejas são conhecidas por pregar o Evangelho a cada semana no culto público. Mas o Evangelho ainda é visto como simplesmente evangelístico. O Evangelho leva as pessoas ao Reino, mas não é ensinado como aquilo que também molda e fortalece a vida cristã. Frequentemente, o que é comunicado aos crentes é alguma forma de moralismo pós-conversão.

Igrejas Centradas no Evangelho

Essas igrejas pregam o Evangelho toda semana explicitamente — mas não apenas para os incrédulos. Pregam e aplicam o Evangelho também aos cristãos, tal como Paulo fez aos romanos (Rm 1.15). O Evangelho molda e fortalece a ética cristã e a vida da comunidade cristã.
Por exemplo, o casamento é ensinado olhando para o amor de Cristo pela igreja (Ef 5.25); a generosidade é vista através das lentes da generosidade de Cristo (2 Co 8. 9); o chamado para perdoar está enraizado em nosso perdão em Cristo (Cl 3.13); a hospitalidade reflete a acolhida de Cristo (Rm 15.7). Os apelos à ação social – tal como cuidar dos órfãos, das viúvas, dos refugiados e dos pobres – também são feitos aos crentes com referência à sua própria identidade em Cristo.

As Implicações do Evangelho

Poderíamos dar muitas razões para buscar a centralidade do Evangelho, mas vou me limitar a cinco.
1. O EVANGELHO TRANSFORMA VIDAS
Se você é um plantador de igrejas, pastor, missionário ou líder de ministério de qualquer tipo, é imperativo que tenha uma confiança inabalável no Evangelho. Ele é o poder de Deus para a salvação (Rm 1.16). Deus ama salvar os pecadores, e ele faz isso quando o Evangelho é proclamado. Além disso, Deus ama santificar seu povo, e ele faz isso à medida em que o Evangelho é aplicado.
2. O EVANGELHO NOS LEVA A ADORAR
O Evangelho nos transforma de dentro para fora. E quando as afeições mudam, tudo muda. Se uma pessoa ama profundamente a Jesus, isso mudará dramaticamente seu comportamento . A teologia de Paulo o leva regularmente à doxologia (Rm 8.31-39;11.33-36).
3. O EVANGELHO NOS TIRA DO DESESPERO
O pecado, o sofrimento e a morte nos levam à desesperança. O Evangelho ergue os santos das noites escuras da alma, nos recordando que o veredicto de Deus já foi pronunciado; que embora soframos agora, ainda estamos nas garras da graça do Pai. Mesmo a morte não pode nos separar do amor de Cristo (Rm 8.31–39).
4. O EVANGELHO UNE CRENTES DIVERSOS EM COMUNIDADE
Em Romanos 8, Paulo está se exultando nas gloriosas promessas do Evangelho. É importante ver a linguagem plural que Paulo usa: “nos”, “nós”, “irmãos/irmãs” e assim por diante. Paulo está buscando unir judeus e gentios em Cristo, portanto ele escreve sobre a beleza do Evangelho por vários capítulos em Romanos. Ele quer ajudá-los a buscar a unidade no Evangelho e a considerar como eles devem amar uns aos outros na prática (Rm 12-14).
Quando chegamos ao capítulo 15, o apelo de Paulo à unidade culmina com esta oração: “Ora, o Deus da paciência e da consolação vos conceda o mesmo sentir de uns para com os outros, segundo Cristo Jesus, para que concordemente e a uma voz glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.” (Rm 15.5-6). Paulo está aplicando sua teologia para edificar um povo unificado e diversificado.
5. O EVANGELHO ABASTECE NOSSA MISSÃO
Podemos suportar a oposição quando temos promessas como as de Romanos 8. Quando temos um Evangelho tão grande quanto este, vamos querer levá-lo às nações. Muitos não têm uma paixão pelas nações precisamente por não terem um Evangelho que mereça ser pregado.
Por isto, não é surpreendente ver a direçāo que Paulo toma no final de Romanos. No capítulo 15, descobrimos que Romanos é uma carta de apoio missionário. Paulo deseja levar o Evangelho à Espanha. Tom Schreiner diz que Paul teria em volta de 60 anos quando escreveu a carta! Isso é o que faz uma grande visão do Evangelho: ela alimenta nossa missão global.

Busque a Centralidade do Evangelho

Portanto, vamos procurar criar uma cultura centrada no Evangelho em nossas igrejas e ministérios. Exemplifique a centralidade do Evangelho em sua vida pessoal. Aplique o Evangelho em seu ensino. Veja o Evangelho nas ordenanças da igreja. Ore o Evangelho. Cante o Evangelho. Sature seus grupos e aulas com o Evangelho. Promova o Evangelho através do evangelismo e da plantação de igrejas. Comemore o Evangelho à medida em que vidas sāo transformadas. Avalie seu ministério observando cuidadosamente como o Evangelho está sendo proclamado e exaltado.
Que possamos seguir o conselho de Charles Spurgeon:
“Preserve o Evangelho, então, faça-o ainda mais. Dê Cristo ao povo e nada além de Cristo. Sacie-os, mesmo que alguns digam que você também os enjoa com o Evangelho… À beira da estrada, na pequena sala, no teatro – em qualquer lugar, em todos os lugares, vamos pregar a Cristo. Escreva livros se quiser e faça qualquer outra coisa ao seu alcance; mas se você não puder fazer outra coisa, pregue a Cristo.”
Do “lado da estrada” à “pequena sala”, em grandes centros de culto a igrejas domiciliares subterrâneas, de cidades a fazendas, de pobres urbanos a ricos suburbanos, de lugares difíceis a lugares de férias, vamos manter o que é de “primeiro importância ”(1 Co 15.3) o principal em nossas vidas, ministérios e igrejas.


Traduzido por Ana Heloysa

Você Está Disposto a Ser Estrategicamente Incomodado?

Muitas vezes, é difícil saber o caminho ético na vida, à luz do Reino de Deus. Pode ser como andar de bicicleta numa ciclovia montanhosa com curvas fechadas. Considere, por exemplo, que somos livres em Cristo: esta é uma posição de tremenda liberdade. No entanto, às vezes, o que temos o direito de fazer não é a melhor coisa a fazer.
Às vezes, pode ser melhor, por causa do Evangelho, ser estrategicamente incomodado.

Uma Pergunta (Capciosa) Sobre Impostos

Um dia, os cobradores de impostos fizeram a Pedro uma pergunta capciosa sobre esse assunto. Em Mateus 17.24 lemos: “Não paga o vosso Mestre as duas dracmas?” Eles antecipavam uma resposta positiva. Em outras palavras, poderia-se dizer: “Seu mestre paga o imposto, certo?”
O imposto aqui é o mesmo de Êxodo 30.11-16. Foi legislado para todos os israelitas na época do censo. O dinheiro era para sustentar o tabernáculo. Havia controvérsia em relação a este imposto. Imagine isto, uma controvérsia sobre impostos! Os historiadores notam que, para alguns, o pagamento da taxa era uma questão de orgulho nacional, enquanto que os saduceus se opunham a ela.
Pedro responde com brevidade: “Sim”.
Mas quando chegam em casa, provavelmente na casa de Pedro, tiveram uma outra conversa. A conversa sobre o imposto foi entre Jesus e Pedro. Acontece que o pagamento do imposto não era uma questāo tāo clara quanto parece. Não era uma questāo de ser patriótico ou nāo. Jesus faz uma pergunta a Pedro no versículo 25. “Ao entrar Pedro em casa, Jesus se lhe antecipou, dizendo: Simão, que te parece? De quem cobram os reis da terra impostos ou tributo: dos seus filhos ou dos estranhos?” (Mt 17.25).
E Pedro responde a ele. “Dos estranhos” (Mt 17.26a).

A Sabedoria do Reino

Então Jesus fornece uma resposta surpreendente. Ele lhe disse: “Logo, estão isentos os filhos. Mas, para que não os escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, e o primeiro peixe que fisgar, tira-o; e, abrindo-lhe a boca, acharás um estáter. Toma-o e entrega-lhes por mim e por ti.” (Mt. 17.26b-27).
Jesus caminha com sabedoria notável nesta situação complicada. E, ao fazê-lo, nos fornece alguns princípios básicos sobre como viver de maneira vitoriosa como cidadãos do Reino em uma terra estrangeira.
Jesus utiliza uma metáfora para demonstrar seu ponto. Ele pergunta sobre os reis da terra: de quem cobram impostos? A resposta é bastante direta. Os reis cobram impostos de seus cidadãos e de povos que conquistam, não de suas famílias. Como resultado, os filhos (do rei) são isentos. Não necessitam pagar impostos.
A quem o imposto é pago? Em última análise, é pago a Deus, visto que é dedicado ao sustento do templo e para a adoração. Portanto, deve o Filho de Deus ser forçado a pagar imposto? Seguindo a lógica de Jesus aqui, a resposta é “não”. Nenhum rei iria cobrar impostos de sua própria família. E por Jesus ser o Filho de Deus, ele está isento deste requisito.
Mas este não é o fim da resposta. Mesmo que Jesus tenha o direito de se recusar a pagar, ele põe isto de lado. Mesmo lógica e teologicamente tendo este direito, ele opta por ser flexível e se posiciona em submissão a outros. Ele disse, com efeito, “para evitar ofender, pague”.
Eu disse que isso seria complexo. Reflita comigo sobre como isto poderia ter sido problemático. Se ele pagasse o imposto, as pessoas poderiam interpretar que ele estava dizendo que não era o Filho de Deus. Além disso, e se ele tirasse a moeda de sua caixa de dinheiro? As pessoas haviam doado aquele dinheiro e talvez seu pagamento fosse mal interpretado. Se ele dissesse que não pagaria, então poderia ser visto dizendo de maneira pública que rejeitava o templo ― e tudo o que este representava.
É complicado.

Inconveniências Estratégicas para o Avanço do Reino

Jesus disse que não quer ser uma ofensa ou uma pedra de tropeço para ninguém. Ele está preocupado sobre como as pessoas responderão se exercer seus direitos. Ele fez algo que satisfez os cobradores de impostos e não ofendeu nenhum de seus apoiadores. Diz a Pedro para ir fisgar um peixe. E dentro dele estaria um estáter, o que seria suficiente para o pagamento do imposto de Pedro e o de Jesus.
Muita foi escrito sobre o peixe. Isso é uma pena, porque o peixe e a moeda não são o ponto central. A questão central é como o rei responde a uma situação complicada e o que podemos aprender com ele. O que necessitamos ver é que Jesus está disposto a deixar de lado seus direitos para não ofender desnecessariamente outra pessoa.
E é aqui que necessitamos aprender com Jesus. Ele tem um princípio governante sobre o Reino. Investiu toda a sua vida nisso. Ele voluntariamente deixa de lado sua liberdade para promover sua missão.
Como cristãos, é este o ponto aonde devemos chegar; necessitamos desenvolver um reflexo de responder a situações com a perspectiva do avanço do evangelho. Embora seja claro que somos livres em Cristo, há nuances cuidadosas a serem consideradas. Como escreveu Paulo: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm” (1 Co. 6.12). Como saber aquilo que convém? Necessitamos ter uma mente como Cristo, que se governa pela expansão do Reino.
Necessitamos desenvolver um reflexo de responder a situações com a perspectiva do avanço do Evangelho.

Esta era a questāo na igreja primitiva em relaçāo ao que as pessoas podiam comer ou beber. Podemos ler sobre isso em Romanos 14-15, bem como em 1 Coríntios 8-9. Aprendemos que a liberdade nem sempre significa exercer seus direitos, mas às vezes significa renunciar a eles. O cristão está em uma posição de flexibilidade. Somos livres para desfrutar de tudo o que Deus criou e sancionou, mas não necessitamos fazê-lo sempre. Quando nossa liberdade interferir na expansão do Evangelho, devemos sabiamente, deixar de lado nossa liberdade pela causa do Evangelho.
Realmente, isto não é algo que vem naturalmente. Nossa tendência é de pensar em nós mesmos antes de pensar nos outros. Mas quando Jesus nos instrui sobre o que significa ser um cidadão do Reino, então aprendemos com aquele que demonstrou mais significativamente o auto-sacrifício.
Devemos nos lembrar que foi Jesus que deixou de lado seus direitos e privilégios como Deus para se tornar um homem também. Ele fez isto por causa do Reino de Deus. Ele estava disposto a ser incomodado para que Deus fosse glorificado e pessoas como você e eu fôssemos abençoados (Fp 2.5-11).
Você está disposto a ser estrategicamente incomodado em prol do avanço do Reino?


Traduzido por Felipe Barnabé

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