terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Declarações da Posição das Igrejas Reformadas e o Abuso Sexual | Rev. Wes Bredenhof


Eu gostaria de saber menos sobre abuso sexual. Na minha vida pessoal e pastoral, aprendi muito sobre a realidade horrível que alguns humanos são capazes de fazer aos outros em busca de seus próprios prazeres. No entanto, o conhecimento que Deus providencialmente me concedeu tem me motivado a defender os abusados. Desenvolvi as seguintes declarações de posição com o intuito de conscientização e provocação de discussões em nossas comunidades reformadas.

Deixe-me, primeiramente, definir alguns termos. Em geral, abuso é uma conduta imprópria em relação a outra pessoa. Pode ser um evento único ou um padrão de comportamento. Em particular, abuso sexual é “a exploração sexual de uma pessoa ou qualquer intimidade sexual imposta a uma pessoa (física ou não). O abuso sexual de crianças pode incluir tirar proveito de uma criança que não é capaz de entender atos sexuais e nem de resistir à coerção, que pode vir na forma de ameaças ou de presentes. O abuso sexual inclui assédio por meio de comportamento verbal, ou físico de natureza sexual, provocado por um indivíduo visando uma pessoa, ou grupo de pessoas em particular, com a intenção de obter favores sexuais”. Essas definições vêm da Child Abuse Policy of the Free Reformed Church of Launceston [Política de Abuso Infantil da Igreja Reformada Livre de Launceston]. Além disso, o abuso sexual infantil ocorre quando as leis da idade de consentimento são violadas. No Canadá, por exemplo, a idade de consentimento é 16 anos [ou seja, essa é a idade mínima em que, outra pessoa acima ou na idade de consentimento está autorizada a exercer atividade sexual com ela].

Quando, abaixo, eu escrevo “igrejas reformadas”, refiro-me às igrejas com as quais estou mais familiarizado: as igrejas reformadas canadenses e as igrejas reformadas livres da Austrália. Isso não significa que outras igrejas reformadas não sejam afetadas, nem que todas as congregações individuais da CanRC e da FRC sejam igualmente afetadas. Estou simplesmente comentando da perspectiva de alguém familiarizado com essas federações da igreja.

DECLARAÇÕES DE POSIÇÃO

1. As igrejas reformadas devem condenar inequívoca e publicamente todas as formas de abuso
Embora devamos sempre acolher pecadores verdadeiramente arrependidos, nossas igrejas nunca devem dar a impressão de ser um porto seguro para abusadores. Em vez disso, nós devemos refletir o coração compassivo do nosso Deus para aqueles que são oprimidos e aflitos (Salmo 34.18). Além disso, nós devemos procurar criar um ambiente seguro e de cura em nossas igrejas para aqueles que sofreram abusos. Finalmente, nós devemos ser igreja onde a justiça e a retidão são mantidas, onde as vítimas não são mais abusadas e os criminosos são devidamente responsabilizados pelos seus pecados. Tudo isso começa com uma clara condenação do abuso, quando apropriado, em nossos sermões, artigos, etc.

2. O abuso sexual tem ocorrido em nossas igrejas
Embora eu não conheça qualquer dado oficial, evidências pessoais certamente indicam muitos casos de abuso sexual. Não se sabe se esses casos são desproporcionais à população em geral (certamente são dignos de um estudo competente). No entanto, com pesar, devemos admitir humildemente que isso aconteceu no passado. Poderíamos esperar que isso não mais acontecesse; porém, como as igrejas são constituídas de seres humanos pecadores e, também, de uma mistura de crentes e incrédulos (Confissão Belga, art. 29), devemos esperar, de modo real, ocorrências contínuas. No entanto, devemos fazer todo o possível para erradicar esse mal da igreja de Cristo.

3. Frequentemente há um vínculo entre abuso sexual e espiritualidade doentia
Vítimas de abuso frequentemente lutam em seu relacionamento com Deus. Devido ao mal terrível infligido a eles (geralmente quando bem jovens), eles podem questionar a bondade, o amor e a providência de Deus. Se eles foram abusados pelo pai ou por uma figura de autoridade, eles podem ter dificuldade em se relacionar com Deus como um Pai amoroso. Eles podem também ter dificuldades em entender, e se apossarem do ensinamento bíblico sobre sexualidade, família e estruturas de autoridade matrimonial. As consequências espirituais do abuso podem ser profundas e aumentar a culpa carregada pelos agressores.

4. Frequentemente há um vínculo entre abuso sexual e problemas de saúde mental
O abuso sexual é uma forma de trauma. É uma atrocidade que pode esmagar quem a experimentou. Qualquer tipo de trauma pode ter implicações na saúde mental. Depressão, ansiedade, automutilação, distúrbios de personalidade múltipla, vícios e outros efeitos podem resultar do abuso sexual, especialmente se não abordado. Esses problemas de saúde mental também podem apresentar desafios à saúde espiritual de uma vítima de abuso sexual.

5. Há um vínculo entre pornografia e abuso sexual contra crianças e cônjuges
Em geral, a pornografia torna pessoas em objetos como um meio de gratificação sexual. Isso predispõe um indivíduo que usa pornografia a ser um abusador. Esse efeito é agravado pela maneira como o uso da pornografia mergulha em níveis cada vez mais depravados. A extensa disponibilidade de pornografia violenta e abusiva aumenta, comprovadamente, o predomínio do abuso sexual. Consequentemente, as igrejas reformadas devem se manifestar sobre os perigos da pornografia, bem como fornecer recursos para que seus membros escapem da escravidão desse pecado.

6. Ao pregar e ensinar o Quinto Mandamento, as igrejas reformadas também devem abordar o abuso de autoridade
Evidências pessoais relatam que, algumas vezes, abusadores invocam o Quinto Mandamento (“honra teu pai e tua mãe”) como forma de justificar e continuar seus abusos. Igrejas reformadas regularmente pregam o Quinto Mandamento (com o Dia do Senhor 39 do Catecismo de Heidelberg) e devem aproveitar a oportunidade para enfatizar que esta lei não tolera comportamentos abusivos. Devemos deixar claro que o abuso é contrário à vontade de Deus; e que os abusadores que usam a lei de Deus para se justificar são duplamente condenados.

7. As igrejas reformadas devem desenvolver políticas de abuso para lidar com abusos do passado e prevenir futuros abusos
Quando colocamos as coisas no papel, indicamos que as levamos a sério. Uma questão tão importante quanto o abuso sexual não deve ser negligenciada. Embora nem todas as circunstâncias possam ser previstas, algumas diretrizes gerais para líderes e membros da igreja podem ajudar bastante a lidar efetivamente com abusos recentes na igreja. Além disso, políticas para impedir futuros abusos também devem estar em vigor como uma questão de devida diligência na proteção das ovelhas e cordeiros do rebanho de Deus.

8. Qualquer igreja local que facilite o abuso, acobertando-o ou recusando-se a denunciá-lo, põe em questão seu status de verdadeira Igreja de Cristo
Uma das marcas da verdadeira igreja é o fiel exercício da disciplina. Se uma igreja local permite que o abuso permaneça encoberto, em vez de atribuir a esse pecado a maior gravidade que existe, ela está dramaticamente longe dessa marca. Se os oficiais de uma igreja se recusam a denunciar abusos às autoridades apropriadas, eles também mostram uma falha significativa em lidar adequadamente com o pecado. Uma igreja verdadeira leva a sério os pecados sérios e os trata de acordo, tanto pelas chaves do reino dos céus quanto pela cooperação com as autoridades civis, quando apropriado.

9. Há esperança para os abusadores e os abusados no evangelho do Senhor Jesus Cristo
Para aqueles que sofreram abusos, as feridas podem ser saradas. Eles podem ser curados quando o bálsamo do evangelho é aplicado, assim, aprendemos a entender melhor a insondável graça de Deus para conosco e para com os outros. Os autores de abusos no passado também podem encontrar ajuda e cura na cruz. Se eles verdadeiramente se arrependerem dos seus pecados, se eles forem humildes e honestos, se eles olharem apenas para Cristo como sua justiça, eles poderão receber perdão de um Deus gracioso e uma mudança significativa em suas vidas pelo poder do Espírito Santo. No entanto, isso de forma alguma diminui as consequências pessoais, criminais ou eclesiásticas desse pecado.


NOTAS:
[1] Extraído de https://yinkahdinay.wordpress.com/2018/10/30/position-statements-on-reformed-churches-and-sexual-abuse/
[2] Nota do autor: eu não reivindico exaustividade a essas declarações, nem afirmo que elas são a melhor e final maneira de enquadrar os problemas abordados. Se outros desejarem melhorá-las, certamente serão bem-vindos.

Tradução de Daniel Tanure
Revisado por Rev Ewerton B. Tokashiki
Fonte: Estudantes de Teologia
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