terça-feira, 19 de março de 2013

Irmãos, Salvai os Santos | John Piper

Eu costumava dizer que o meu objectivo como pastor-mestre era a salvação dossalvação pecadores e a edificação do corpo de Cristo - ganhar os perdidos e edificar os santos. Mas havia uma premissa errada por detrás deste objectivo. A premissa é que o meu papel é apenas pregar o Evangelho aos perdidos e orar por eles. Depois de serem convertidos e agregados à Igreja a minha operação na sua salvação acabou e eu sou simplesmente um agente de Deus no seu grau relativo de edificação e santificação.

O meu erro consistiu em pensar que apenas a salvação dos perdidos dependia da minha pregação, não a salvação da Igreja.

Durante algum tempo, por isso, pareceu-me estranho que o pastor Puritano pregasse para o seu rebanho como se as suas vidas eternas disso dependessem. Porque é que Richard Sibbes (falecido em 1635), que era conhecido como o "doce conta-gotas", suplicava tão fervorosamente com os santos para "exercitarem a Graça"? A sua resposta: "não são os hábitos de sono, mas é graça em exercício que nos preserva".

Os puritanos acreditavam que a falta de perseverança na obediência da fé resultaria na destruição eterna, não em menor santificação. Portanto, uma vez que a pregação e o ministério pastoral em geral, são um óptimo meio para a perseverança do santos, o objectivo de um pastor não é apenas edificar os santos, mas salvar os santos. O que está em jogo ao Domingo de manhã não é apenas a edificação da igreja, mas a sua salvação eterna. Não é difícil de notar a razão pela qual os puritanos eram tão sérios.

O que Redireccionou a Minha Atenção

Mas não foram nem Sibbes, nem Baxter, nem Boston, nem Edwards e nem Spurgeon que fizeram com que eu mudasse o meu objectivo. Paulo escreveu a Timóteo, "Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina: persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem. " (1 Tm 4:16). Os "ouvintes" que Paulo tem em mente não são pessoas de fora da igreja (como nos mostra o versículo 12). A nossa salvação e a salvação dos que nos ouvem, semana após semana, dependerá em grande medida da nossa fiel atenção à santidade pessoal e bom ensino. Mais está em jogo no nosso trabalho do que o maior ou menor progresso na santificação. A salvação dos eleitos está na linha da frente.

Em 2 Timóteo 2:9-10 Paulo relata seu sofrimento no evangelho e diz: "tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna." Quando Paulo diz que sofre pela salvação dos eleitos, ele não quer dizer apenas as pessoas que ainda não são convertidas. Ele afirma em Colossenses 1:24: "Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja". Não só isso, pois no contexto imediato ele diz (2 Tm 2:12.): "Se sofrermos, também com ele reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará". A salvação dos eleitos depende da sua não negação de Cristo e a sua perseverança na fé e obediência.

Dado que o trabalho pastoral de Paulo é um meio de ajudar os eleitos a suportar, assim ele vê todo o seu trabalho como fundamental para sua salvação. Não é de admirar que Paulo gemesse sob "a pressão diária" do seu "cuidado por todas as Igrejas" (2 Coríntios 11:28)?

Naquela bela passagem de 2 Coríntios, onde Paulo ensina que Deus nos conforta para que possamos confortar os outros, ele vai além do conforto e diz: "Se somos atribulados, é para o vosso conforto e salvação" (2 Cor. 1.6). Mais uma vez, é para a salvação dos membros da Igreja que Paulo sofre e labuta.

O Exemplo do Trabalho Salvífico de Paulo

Um exemplo em como o trabalho pastoral de Paulo conduz à salvação dos eleitos é encontrada em 2 Coríntios 7. Os crentes de Corinto haviam caído em pecado. Paulo escreveu-lhes uma carta que os entristeceu profundamente. Mas Paulo regozija-se porque a dor deles produz arrependimento: "Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende" (v. 10).

O que era então o objectivo de Paulo nesta carta pastoral difícil? Era o arrependimento para salvação. As admoestações de Paulo haviam feito com que os crentes vacilantes se moderassem e trabalhassem na "sua própria salvação com temor e tremor" (Fp 2:12) Ele trouxe de volta um pecador extraviado do erro dos seus caminhos e, assim, "salvou sua alma" (Tiago 5:19-20). A vida eterna dos eleitos tem muito a ver com a eficácia dos trabalhos pastorais. Ó, quão sérios devemos ser na atenção dada a nós mesmos e à sã doutrina!

É o trabalho de um pastor o labutar de modo a que nenhum de seus irmãos e irmãs seja destruído. O coração pastoral de Paulo parecia prestes a quebrar quando viu o fracasso do amor na igreja em Roma (Rm. 14:15). Os fortes exibiam a sua liberdade de comer alimentos que, para os fracos, teria sido pecado (v. 14). É espantoso o que Paulo viu em jogo aqui: "Não destruas por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu" (v. 15)! "Não destruas por causa da comida a obra de Deus."(v. 20)!

A mesma advertência foi dada aos crentes de Corinto que tendiam a exibir sua indiferença para com a carne oferecida aos ídolos. "Mas vede", Paulo disse, "que essa liberdade não seja dalguma maneira escândalo para os fracos .... E pela tua ciência perecerá o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu" (1 cor. 8:9-11).

A Gravidade da Destruição

Não há nenhuma maneira de enfraquecer a palavra "destruir" (apollumi). O seu oposto é a Salvação, e nada menos, como 1 Coríntios 1:18 e 2 Coríntios 2:15 esclarecem. Se um irmão é destruído, ele está perdido. A referência é a destruição para além da morte, porque Paulo usa o mesmo termo, quando diz: "Se Cristo não ressuscitou, então... também os que dormem [morreram] em Cristo pereceram [foram destruídas - no inferno] "(1 Coríntios. 15:17-18).

O que está em jogo na admoestação pastoral e na pregação não é somente o progresso da igreja na salvação, mas a sua salvação. Mas que erro seria se tirássemos a conclusão: "Vamos, então, apenas pregar mensagens que mostrem o plano simples de salvação, semana após semana." Isto não é, enfaticamente, a maneira de cuidar do rebanho sobre o qual "o Espírito Santo vos constituiu bispos" (Actos -20:28).

Quando Pedro disse: "Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo" (1 Pedro 2:2), ele não quis dizer pela palavra "leite" o que Hebreus 5:12 diz em contraste a carne. Tudo o que ele queria dizer era a fome da Palavra da graça de Deus (1:25) tanto quanto um bebé tem fome de leite. Pois apenas a alimentação pela Palavra pode fazer com que cresças, e só pelo crescimento podes alcançar a salvação final. Uma dieta constante de "mensagens do Evangelho" que não ajudam os santos a sair da infância não só retarda o seu carácter, mas também coloca em risco a sua salvação.

Os Crentes não são Estáticos

Devemos lembrar-nos do seguinte: não há quietude na vida cristã. Ou avançamos em direcção à salvação ou afastamo-nos rumo à destruição. Se não direcionarmos o nosso povo às riquezas inesgotáveis ​​de Cristo revelando-lhes "todo o conselho de Deus" (Actos 20:27), então direcionamo-los às rochas onde podem fazer naufrágio da sua fé (1 Tm. 1:19).

Isto é o que Hebreus 2:1-4 ensina. Há duas possibilidades: dar ouvidos à Palavra do Senhor (v. 1, 3) ou afastarmo-nos dela. Não há como ficar parado no rio da indiferença. A sua corrente leva-nos para as quedas. Portanto, o versículo 3 questiona: " Como escaparemos nós [da justa retribuição de Deus], se não atentarmos para uma tão grande salvação?" Negligenciar a nossa grande salvação significa não dar ouvidos ao que foi revelado pelo Filho (1:2), não colocando a nossa atenção em Jesus (3:1; 12:2).

O resultado será o afastamento da Palavra e, consequentemente, o afastamento da salvação. "Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo" (3:12). "Porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim" (3:14). O Filho "veio a ser a causa de eterna salvação para todos os que lhe obedecem [continuar obedecendo-lhe - tempo presente de ação contínua]" (5:9).

Alimentai o Vosso Rebanho

Por isso o caminho para a tua salvação e a dos teus ouvintes (1 Tm. 4:16) não é de impedir o crescimento de teu povo com uma dieta sem carne de "mensagens de salvação." Isto havia enviado os "Hebreus" para trás directamente à destruição (5:11-14). A maneira de salvar os santos é alimentá-los de todas as Escrituras, pois são as Escrituras "que são capazes de instruir-te para a salvação" (2 Tm. 3:15).

Uma palavra final sobre a segurança eterna. É um projecto comunitário. E é por isso que o ministério pastoral é tão sério e a nossa pregação não deve ser brincalhona, mas séria. Nós pregamos deste modo para que os santos possam perseverar na fé para a glória. Nós não pregamos apenas para o seu crescimento, mas porque se eles não crescem, eles perecem. Se és um calvinista (como eu) tu repousas na soberania da Palavra de Cristo: "As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão-de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão"(João 10:27-28).

Os eleitos amarão a Palavra de Deus, os eleitos vão crescer, os eleitos vão arrepender-se e os eleitos serão certamente salvos (Rm 8:29-30). Mas eles não serão salvos sem o teu ensino. Deus ordenou que haja pastores e mestres, não só com o propósito de edificação, mas também com o propósito de salvação. Ó, que a nossa pregação possa ter o sabor da eternidade. Pois em cada semana a eternidade está em jogo.

por John Piper | Traduzido por: Semperreformanda

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