Agora, isso levanta diversas questões. Uma: bem, se nosso
fracasso em guardar firme nossa esperança e confiança significa que jamais
fomos participantes de Cristo, como podemos nos afastar, como informa o
versículo 12?
"Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em
qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste [desviar-se]
do Deus vivo."
Em que sentido pode haver um afastamento ou desvio de Deus
se verdadeiramente jamais pertencemos a ele?
Uma resposta simples é que pode haver real e doloroso
afastamento de uma noiva, o que não é o mesmo que se afastar de uma esposa.
Penso que a forma com a qual o escritor da carta deseja que reflitamos sobre
isso é dado pelo exemplo do povo de Israel nos versículos 7–11 (Salmo 95). Ele
indica, no versículo 9, que o povo "viu minhas obras por quarenta anos"
e ainda continuavam com seus corações endurecidos contra Deus (v. 8) e sempre
erravam em seus corações (v. 10). Expressando de outra forma, eles haviam visto
Deus dividir o mar Vermelho e mostrou a eles grande misericórdia para salvá-los
do Egito. Eles o viram tirar água da rocha, prover o maná do céu, prover-lhes
direção com as colunas de nuvem e fogo, libertação dos inimigos, boas leis para
serem seguidas, clemência para com suas rebeliões. Mas a despeito de tudo isso,
eles endureceram o coração e cessaram de esperar em Deus. Quiseram voltar para
o Egito, fizeram ídolos e murmuraram. É isso que o autor da carta quer denotar
com a expressão "afastar-se do Deus vivo".
Eles foram levados para o contexto das obras poderosas de
Deus. Provaram seu poder e as bênçãos do Espírito e da bondade. Foram
iluminados com a revelação de Deus acima de qualquer outro povo na terra. E
eles se afastaram. Assim ocorreu com algumas pessoas nos tempos do Novo
Testamento. E da mesma forma é hoje. Essas pessoas testemunharam os sinais e as
maravilhas mencionados em Hebreus 2,4. Provaram os poderes do mundo vindouro.
Foram constituídos em um povo amoroso e vivenciaram as obras do Espírito no
meio deles e em suas vidas. Vislumbraram a luz do Evangelho. Foram batizados e
participaram do pão da comunhão. Ouviram a pregação e, provavelmente, fizeram
elas mesmas obras extraordinárias.
Mas, como Israel, seus corações endureceram e um coração
perverso de incredulidade assumiu o controle e eles começaram a colocar a
esperança em outras coisas em vez de Cristo e, por um período prolongado,
afastaram-se da bondade que os havia cercado. E Hebreus afirma que a explicação
para isso é que "não eram participantes de Cristo". Eles foram
participantes de certas frações de iluminação, poder e alegria, mas (usando as
palavras de Jesus) não havia raiz à planta e ela secou, enquanto outras foram
sufocadas com os cuidados e as riquezas e os deleites da vida (Lucas 8,13-14).
Afirmando de outra maneira, você pode se afastar de Deus
mesmo em um nível que você se aproxime da obra dele - o amor de seu povo, a luz
de sua Palavra, o privilégio da oração, a força moral de seu exemplo, os dons e
milagres do Espírito, as bênçãos da providência e a graça diária do sol e
chuva. É possível provar essas coisas, ser profundamente influenciado por elas,
e se perder na incredulidade, porque o próprio Jesus Cristo não é o prazer de
seu coração, esperança, confiança e recompensa.
Jesus ensinou esses assuntos repetidamente para advertir
contra a falsa segurança. Por exemplo, ele disse em Mateus 7:21-23:
"Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no
reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.
Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor, porventura, não temos nós
profetizado em vosso nome, e em vosso nome expelimos demônios, e em vosso nome
fizemos muitos milagres? Então, eu lhes direi explicitamente: nunca vos
conheci. Apartai-vos de mim os que praticais a iniquidade".
Profetizar, expulsar demônios, a operação de milagres em
nome de Jesus não prova que Jesus nos "conhece" ou somos
participantes de Cristo. É possível realizar essas coisas com um coração
insensível e contumaz. A evidência de "ser conhecido" por Jesus é que
ele é nossa esperança, confiança, tesouro ou recompensa (Hebreus 10:24;
11:25-26). Essa é a realidade interior que transforma nossas vidas.
Aqui há uma pergunta: como você se afasta ou se desvia de
Deus, se jamais foi um participante de Cristo? E a resposta é: há muitas formas
de se afastar da presença de Deus pela falta de confiança, esperança nele e
pela ausência de amor por ele, e há muitas maneiras de se desviar de Cristo sem
jamais ter sido um participante de Cristo.
[1ª Parte] Dois grandes "ses"
[2ª Parte] Hebreus ensina a segurança da salvação eterna
[3ª Parte] Como você pode "se afastar de Deus"
se você jamais foi um cristão?
[4ª Parte] Como podemos ter certeza de nossa segurança de
salvação eterna?
[5ª Parte] Como a igreja nos ajuda a evitar que tenhamos
um "perverso coração de incredulidade"?
Fonte: Desiring God
Tradução: Editora Fiel
Nenhum comentário:
Postar um comentário