sábado, 8 de fevereiro de 2025

A Igreja Visível e a Ceia do Senhor: O Debate entre Solomon Stoddard e Jonathan Edwards | Pb. Evandro Marinho

A história da igreja está repleta de debates teológicos que moldaram a compreensão da fé cristã ao longo dos séculos. Entre os puritanos americanos dos séculos XVII e XVIII, um dos debates mais marcantes envolveu Solomon Stoddard (1643–1729) e seu neto Jonathan Edwards (1703–1758), especialmente no que dizia respeito à membresia da igreja e à participação na Ceia do Senhor.

Stoddard: A Inclusão Baseada na Moralidade e na Doutrina

Solomon Stoddard, influente pastor em Northampton, Massachusetts, defendeu uma visão mais inclusiva da igreja visível. Ele argumentava que a obra salvífica do Espírito Santo nem sempre era perceptível e que, portanto, aqueles que concordavam com as doutrinas cristãs e demonstravam uma conduta moral poderiam ser considerados membros da igreja e ter acesso à Ceia do Senhor. Em sua obra The Doctrine of Instituted Churches Explained and Proved from the Word of God (1700), Stoddard justificava essa posição afirmando que a graça regeneradora poderia ser invisível e, por isso, não deveria ser um critério absoluto para a participação nos sacramentos.

Essa abordagem ficou conhecida como a "visão da Ceia como meio de graça" e visava facilitar o engajamento de mais pessoas na vida da igreja, na esperança de que isso as conduzisse à verdadeira conversão. Em um contexto de declínio da piedade e de dificuldades em identificar conversões genuínas, Stoddard via essa prática como um meio de incentivar uma maior devoção cristã.

Edwards: A Membresia Restrita aos Verdadeiros Crentes

Jonathan Edwards, por outro lado, defendia que apenas aqueles que demonstrassem evidências de verdadeira conversão deveriam ser membros da igreja e participar da Ceia do Senhor. Em seus escritos, como The Miscellanies, ele argumentava que ser um membro regular da igreja exigia ser um cristão visível, ou seja, alguém que aparentasse de maneira legítima e pública ser um verdadeiro crente. Para Edwards, a Ceia do Senhor era um privilégio restrito aos regenerados, não um meio pelo qual as pessoas poderiam alcançar a conversão.

Edwards enfatizava que a igreja não deveria aceitar membros apenas com base em sua moralidade ou aceitação intelectual do cristianismo, mas sim na evidência de uma obra transformadora do Espírito Santo em suas vidas. Esse posicionamento gerou resistência dentro de sua congregação e, eventualmente, contribuiu para sua remoção do pastorado em 1750.

Aplicações para a Igreja Hoje

O debate entre Stoddard e Edwards levanta questões fundamentais sobre a natureza da igreja e a administração dos sacramentos. Algumas aplicações para os dias atuais incluem:

  1. O discernimento na membresia da igreja – As igrejas devem ter critérios claros para a admissão de novos membros, buscando equilíbrio entre acolher novos convertidos e manter a pureza doutrinária e espiritual da comunidade.

  2. A Ceia do Senhor como privilégio dos crentes – Muitas igrejas hoje enfrentam o desafio de decidir quem pode participar da Ceia. O princípio defendido por Edwards reforça a importância de avaliar a profissão de fé dos participantes, garantindo que aqueles que participam compreendam e vivam o Evangelho.

  3. O papel dos sacramentos na vida da igreja – Enquanto Stoddard via a Ceia como um meio de levar as pessoas à conversão, Edwards a via como um selo da fé já existente. Esse debate continua relevante para a prática sacramental das igrejas contemporâneas.

Em um mundo onde o nominalismo religioso e a superficialidade espiritual são desafios constantes, a necessidade de uma igreja composta por verdadeiros discípulos de Cristo permanece crucial. O chamado à fidelidade na administração da membresia e dos sacramentos é um legado do pensamento de Jonathan Edwards que ainda ressoa fortemente nos dias atuais.

Por: Evandro Marinho

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