sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Esforce-se para descansar | Jon Bloom

Se a Graça É um Favor Imerecido, Por Que Precisamos Nos esforçar?

O evangelho não é um convite para que nos aproximemos de Jesus e recebamos sua graciosa, inestimável e benevolente dádiva da salvação? Sim:

“Porque pela graça vocês foram salvos por meio da fé. E isso não é obra de vocês, é dom de Deus, não resultado de obras, para que ninguém se glorie.” (Ef. 2:8–9, NVI).

O evangelho não é um convite para que venhamos a Jesus para sermos aliviados dos fardos de nossas almas e recebermos seu incomparável descanso? Sim:

“― Venham a mim todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu darei descanso a vocês. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para a alma. Pois o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.” (Mt. 11:28–30).

Então, como podemos conciliar essas declarações maravilhosas e reconfortantes sobre a passividade do evangelho com as seguintes exortações à ação rigorosa e incômoda da santificação?

“― Se alguém quiser vir após mim, negue se a si mesmo, tome a sua cruz e siga me. Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá, mas quem perder a própria vida por minha causa a encontrará.” (Mt. 16:24–25).
“Portanto, façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena de vocês.” (Col. 3:5).
Ponham em prática a salvação de vocês com temor e tremor, pois é Deus quem produz em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele.” (Filip. 2:12–13).
Portanto, esforcemo-nos para entrar nesse descanso [de Deus], a fim de que ninguém venha a cair, seguindo aquele exemplo de desobediência [como a da geração de Moisés].” (Heb. 4:11).
Busquem... a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor. Tomem cuidado para que ninguém se afaste da graça de Deus.” (Heb. 12:14–15).
Combata o bom combate da fé. Tome posse da vida eterna, para a qual você foi chamado.” (1 Tim. 6:12).

Como pode o recebimento passivo do “dom indescritível” da graça de Deus (2 Cor. 9:15), que Jesus obteve integralmente para nós por meio de sua obra de redenção (Rom. 3:23-24; Ef. 2:8–9; Gál. 6: 14), a fim de nos libertar de nossas próprias obras sem esperança, para que, pela fé, possamos descansar em Cristo (Mt. 11:28–30; Rom. 11:6; Gál. 3:2–3), exigir nosso ativo “avançando” e “prosseguir[indo] para alcança-lo” (Filip. 3:12–14)?

Se a salvação é um dom gratuito e gracioso de Deus para nós e “não é resultado de [nossas] obras”, por que precisamos “pôr em prática [nossa] salvação”? Será que isso é apenas a Bíblia falando da boca para fora?

Não. Estamos simplesmente nos deparando com uma genialidade de proporções surpreendentes – o projeto paradoxal de nossa redenção. Se o examinarmos com cuidado, veremos a peculiar, autoafirmativa e reveladora glória de Deus neste plano de salvação, um plano que os seres humanos não pensariam em inventar (e que nunca foi inventado em nenhuma religião criada pelo homem).

Genialidade Surpreendente

Gostaria de destacar apenas um aspecto dessa glória. Embora sejamos salvos pela graça incondicional e eletiva de Deus (Ef. 1:4; 2:5), por meio do dom gratuito da fé (Ef. 2:8), as obras que nossa fé produz provam que nossa fé é real (Tg. 2:18). A fé é o dom gratuito da eleição; as obras são a evidência dessa eleição.

É por isso que, por um lado, Jesus diz: “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o atrair” (Jo. 6:44) – a dádiva gratuita da eleição – e, por outro lado, ele diz: “Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos.” (Jo. 14:15) – a evidência da eleição. Ele une as duas coisas quando diz: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz (eleição), e eu as conheço, e elas me seguem (evidência)” (Jo. 10:27).

A genialidade do projeto de Deus aqui é vista em algumas das parábolas de Jesus. Ele diz que quando a rede do evangelho é lançada no mar do mundo, ela “apanha toda sorte de peixes” (Mt. 13:47), alguns justos e outros maus. A igreja visível é sempre uma pescaria mista, ou sempre tem joio no meio do trigo (Mt. 13:24–30), ou sempre tem bodes no meio das ovelhas (Mt. 25:31–46). O que distingue os eleitos dos outros é sua fé dada por Deus, demonstrada por suas obras dependentes de Deus (Tg. 2:14–26; 1 Jo. 3:10). A fé opera por meio do amor (Gál. 5:6).

Falar é fácil. Jesus disse: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.” (Mt. 7:21).

Garanta Sua Escolha

Há muito mais glória a ser vista nesse projeto brilhante e paradoxal, que é o dom gratuito da graça salvadora de Deus, o qual se manifesta por meio de nossa vontade e obras (Filip. 2:13)! Poderíamos explorar como isso mostra a sabedoria e o poder de Deus de maneiras completamente imprevistas para os seres humanos orgulhosos (1 Cor. 1:27–31; 2:8), ou como isso dá testemunho público da realidade e do evangelho de Jesus (Jo. 13:35), ou como isso fortalece nossa fé concedida por Deus, aumenta nossa alegria Nele e nos santifica (Tg. 1:2–4; Heb. 12:11). Mas isso é assunto para outros artigos.

Não há contradição nos convites do evangelho para recebermos passivamente a dádiva gratuita da salvação de Deus e nas exortações do evangelho para que prossigamos para nos apropriarmos dessa dádiva. Nossas obras não são decisivas para nossa salvação. Elas são evidências da obra salvadora de Deus em nós.

E é por isso é dito “empenhem-se ainda mais para consolidar o [nosso] chamado e eleição” (2 Ped. 1:10), trabalhando em nossa salvação com temor e tremor.

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