segunda-feira, 1 de abril de 2024

PASTORES DOMINADORES DO REBANHO

É preciso falar com vigor e firmeza contra uma prática que tem se infiltrado em algumas igrejas evangélicas: a dominação indevida de pastores sobre o rebanho. Há aqueles que, distorcendo as Escrituras, se autoproclamam como intocáveis, usando versículos como "Não toqueis no meu ungido" e advertências contra a "blasfêmia contra o Espírito Santo" para escapar de críticas e manter controle sobre a igreja.

A expressão "não tocar no ungido do Senhor" e a relutância de Davi em fazer mal a Saul, reconhecendo-o como o ungido do Senhor, são mencionadas em várias passagens bíblicas. Estas incluem 1 Samuel 24:6, onde, pressionado por seu exército a matar Saul, Davi responde: “O SENHOR me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele, pois é o ungido do SENHOR”. Em outra ocasião, com o mesmo argumento, Davi impediu que Abisai matasse Saul, que dormia tranquilamente, dizendo: “Não o mates, pois quem haverá que estenda a mão contra o ungido do SENHOR e fique inocente?” (1 Samuel 26:9).

Davi não queria matar Saul porque reconhecia que esse, mesmo de forma indigna, ocupava um cargo designado por Deus. Davi não queria ser culpado por matar alguém que recebera a unção real.

Mas o que não se pode ignorar é que esse respeito pela vida de seu opositor não impediu Davi de confrontar Saul nem de acusar o rei de injustiça e perversidade por persegui-lo sem causa (1Sm 24.15). Davi não queria matar Saul, mas pediu a Deus, diante de todo o exército de Israel, que agisse como juiz contra o rei e castigasse Saul, vingando a ele mesmo (1Sm 24.12). Davi também dizia a seus aliados que a hora de Saul estava por chegar, pois o próprio Deus haveria de matá-lo por seus pecados (1Sm 26.10).

Além disso, a advertência de Jesus sobre a blasfêmia contra o Espírito Santo diz respeito à atribuição das obras de Deus a Satanás, uma condição de coração endurecido e de rejeição total à obra do Espírito. Não é uma ferramenta para silenciar os leigos ou para gerar medo entre aqueles que sinceramente buscam a verdade e a integridade na liderança da igreja.

O apóstolo Pedro nos exorta: "Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas voluntariamente, conforme a vontade de Deus; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, mas sendo modelos do rebanho" (1 Pedro 5:2-3). A liderança na igreja é chamada a ser um exemplo de serviço, não um exercício de poder autoritário. O pastor deve ser o primeiro a demonstrar humildade, abertura para o diálogo e disposição para ser corrigido segundo a Palavra.

A Reforma protestante foi, em grande medida, uma resposta ao abuso de poder e à corrupção na igreja, e os reformadores lutaram com bravura pela recuperação da verdadeira doutrina bíblica e pela liderança eclesiástica responsável. Portanto, é irônico e trágico que, em algumas igrejas que se dizem evangélicas, herdeiras dessa tradição, haja líderes que agem de maneira contrária aos princípios bíblicos.

Todo cristão, incluindo os líderes, está sob a autoridade da Palavra de Deus. A igreja deve ser uma comunidade de mútua edificação, onde a disciplina e a correção são exercidas de acordo com a Escritura, sempre visando o arrependimento, a restauração e o crescimento em santidade. Nenhum líder é acima do escrutínio bíblico; pelo contrário, deve ser um exemplo de submissão à Palavra de Deus e de liderança que reflete o caráter de Cristo, o verdadeiro Pastor e Bispo das almas.

Augustus Nicodemos Lopes 

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