A
liderança exige seguidores de confiança. A fé, no bom juízo e visão do cabeça
de uma organização, durará somente enquanto o líder estiver dando à seus
seguidores razões para nele confiar. A confiança tem suas raízes no caráter. É
por isso que o caráter é central na liderança efetiva. Os líderes que
apresentam os mais nobres traços de caráter não precisam se manter no poder por
força bruta ou engano. “A que a liderança e o gerenciamento são duas funções
distintas.”
·
O gerenciamento preocupa-se com o
controle, a eficiência e as regras, enquanto que a liderança deve se preocupar
com a direção, o propósito e o sentimento familiar.
·
A liderança sugere seguidores
voluntários, ao passo que, o gerenciamento, muitas vezes, exige a obrigação e o
dever.
·
O cabeça da companhia pode ser
considerado um bom gerente se ele toma decisões que aumentarão a rentabilidade
da organização.
·
A liderança deve ter uma visão
maior, direcionada ao bem-estar, a longo prazo, de todas as pessoas
beneficiadas pela organização.
·
O gerenciamento preocupa-se com a
qualidade do produto e seu bom nome, enquanto que, a liderança olha, em
primeiro lugar, para a justificativa moral da fabricação do produto.
"Gerenciamento é fazer as coisas de uma forma correta.
·
Liderança é fazer as coisas
corretas. Gerenciamento é eficiência subindo a escada do sucesso; liderança
determina se a escada está posta contra a parede certa".
O
autor de Hebreus refere-se a liderança quando ele exorta seus leitores: "Obedecei aos vossos guias e sede submissos
para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para
que façam isto com alegria e não gemendo" (Hb 13.17). Um líder tem
seu olho no Dia do Juízo, quando seus seguidores louvarão a Deus por ele, ou o
condenarão por ter colocado pedras de tropeço no caminho deles. Os traços do
caráter, que seguem abaixo, são seguros, à toda prova, no que diz respeito a um
homem que é usado por Deus.
Santidade
A
primeira exigência de um líder cristão é santidade. Ele precisa ser sensível ao
pecado que outros possivelmente consideram aceitável. Isaías tornou-se sensível
a sua fala impura logo que viu o Senhor exaltado no templo. O tremendo som da
repetição de "santo é o Senhor dos Exércitos" pelo serafim,
estarreceu-o (ls 6.1-3). Ele gritou:”Ai de mim! Estou perdido!" (v.5).
Esse foi o efeito que a visão teve no jovem profeta.
É
improvável que lsaías usara uma linguagem mais violenta, impura ou blasfema do
que seus contemporâneos. Porém, um sentimento de culpa tomou conta dele no
ambiente santo que enchera o templo. O véu, que separava a realidade do céu das
coisas terrenas, foi partido. Deus preparou Isaías para liderar, fazendo-o
completamente miserável diante de sua natureza pecaminosa.
Deus
comanda todos os seus filhos: "Sede santos, porque eu sou santo" (IPe
1.16; Lv 11.44; 19.2). Ele, assim, revela ambos - a base e o padrão da
santidade. O alicerce da santidade do líder está no caráter do Deus que ele
está representando. Se a descrição, "homem de Deus", falha em
representar a pessoa em comando, a organização cristã que ele lidera se sentirá
mais livre para andar nas trevas. Um modelo com ações dúbias encoraja
seguidores a dar "jeitinhos" e ser hipócritas.
O
comportamento não apropriado para um líder torna a nova natureza dos filhos da
luz em uma farsa (Ef 5.8). A
santidade, do ponto de vista humano, coincide com boa reputação. Pedro não
somente exortou os crentes da Ásia Menor para serem santos, mas para:
"Manter exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que,
naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em
vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação" (IPe 2.12). O
mundo secular do primeiro século acreditava que os cristãos eram maus.
Acusações
das mais variadas e absurdas foram motivos de mexerico. Contudo, as boas obras
dos cristãos e a preocupação amorosa dos crentes continuavam a desmentir as
acusações pagãs.
A
importância da boa reputação de um líder é algo de conhecimento geral.
Confiança é algo tão crucial, especialmente na liderança, que uma reputação
manchada criará sérios problemas. Quando se espalha a notícia de que um pastor
ou um líder é uma pessoa adúltera, isso causará ondas de choque na congregação.
Semelhante à um terremoto, a destruição que isso acarreta à fé de jovens e
adultos pode ser igualmente devastadora. Certamente, esta é a razão que Jesus
atribui tão terrível condenação àqueles que causam a queda dos
"pequeninos", isto é, dos crentes novos e instáveis na fé. Em alguns
casos, eles não sobreviverão ao choque (Mt 18.1-11).
·
Não somente pecado sexual, mas todas
as obras más que possam arruinar o bom nome do líder têm um efeito destrutivo
nos seus seguidores.
Os
apóstolos alistaram uma boa reputação como a primeira exigência para aqueles
que haveriam de ocupar a função de liderança (At 6.3). Na lista de exigências
para o' ofício pastoral, "irrepreensível" é a primeira (1Tm 3.2; Tt
1.6). Paulo foi bem cuidadoso ao apresentar as credenciais de uma vida exemplar
diante de seus acusadores em Cesaréia (At 22-26).
O
peso de suas últimas palavras aos anciãos da igreja em Éfeso, também demonstra
sua boa reputação (At 20.17-35). É sábio que uma igreja pro¬cure saber o máximo
possível à respeito do pastor convidado para liderá-la. Quando se levantam
dúvidas e perguntas não respondidas referentes à sua reputação, a igreja
precisa exercitar grande relutância para oferecer a posição a tal homem. A
reputação, uma vez prejudicada, somente poderá ser restaurada durante uma longa
caminhada de integridade.
Stephen
Neill, falando a alguns líderes ambiciosos, disse-lhes: "Os anos, entre quarenta e cinqüenta, são os mais perigosos da
vida de um homem. Esse é o tempo em que nossas fraquezas internas são mais
propensas a aparecer [...] É bem melhor descobrir agora, enquanto jovens, quais
são as nossas fraquezas, e trabalhá-las [...] do que deixar os anos nos abater,
trazendo-as à tona, bem quando é o tempo em que deveríamos estar crescendo à
estatura de líderes e pilares na Igreja”.
Um
líder não cai de repente, mas é como uma árvore em um processo vagaroso de
apodrecimento interno; ela cai, quando um vento forte sopra, porque a doença
havia enfraquecido a estrutura interior. Porém, há sinais de aviso. Um índice
baixo de disciplina em áreas como fantasias e sonhos, comida, vícios a alguns
hábitos ou apetites, mostram claros sinais de perigo. A falta de compromisso
com os princípios éticos e doutrinários deve ressoar como um alerta. A recusa
de prestar-se contas a alguém, que não seja a si mesmo e a racionalização dos
erros cometidos acarretam o enfraquecimento da consciência. Além desses, há
também outros sinais de alerta. "Eu não posso jamais pensar que, já que
Deus tem-me perdoado, eu deva perdoar-me de forma fácil". Essa foi uma
regra vivida por Charles Simeon de Cambridge, na Inglaterra, um pastor que Deus
usou poderosamente no começo do século XIX.
Cheio
do Espírito Santo
"Cheio
do Espírito" foi o segundo traço de caráter que os apóstolos solicitaram
dos líderes que cuidavam da distribuição
diária (At 6.3). Há alguma controvérsia com relação ao significado dessa frase,
mas é razoavelmente claro que a "plenitude do Espírito
Santo"significa três coisas:
1. Primeiro,
significa que o líder tornou-se corajoso e valente. A realidade do Espírito na
vida de um homem como Pedro pode ser vista em seu sermão no dia de Pentecostes
(At 2), e em sua resposta corajosa aos líderes e anciãos dos judeus, que tinham
o poder de colocá-lo na prisão e matá-lo (At 4.8). O encontro de oração, após
as ameaças dos líderes do Sinédrio, resultou em um novo encher do Espírito. A
conseqüência foi que eles "com intrepidez, anunciavam a palavra de
Deus" (At 4.31).
Estêvão
foi um dos sete que convenceu a igreja de Jerusalém que ele estava "cheio
do Espírito". É surpreendente a tremenda coragem com a qual expressou sua
interpretação do Antigo Testamento com relação a Jesus, como o Messias. Ele era
sabedor de qual seria a reação da sinagoga, mais ainda assim, permaneceu calmo
e despreocupado, enquanto a manifestação determinara apedrejá-lo (At 7.54-60).
Liderança e um "espírito de medo" não casam-se. Timidez em um líder
não é um sinal saudável nem promete sucesso (cf. 2Tm 1.7).
2. Segundo,
o enchimento do Espírito é encontrado no zelo e poder evangelístico que Filipe
demonstrou em Samaria. Foi tão impressionante a unção pela qual Filipe
proclamara Cristo (At 8.6), que multidões deram atenção ao que disse. Além do
mais, os demônios gritavam quando foram expulsos das pessoas possuídas. Ele
realizou milagres poderosos de curas de doenças físicas (v.7). Atualmente, não
exigimos de líderes de organizações cristãs que realizem milagres, mas zelo por
Deus e seu Reino são evidências claras da presença do Espírito.
O
significado do controle desimpedido do Espírito na vida de uma pessoa pode ser
observado na vida de Whitefield. "George Whitefield foi imensamente usado
por Deus, porquanto ele e John Wesley viraram de cabeça para baixo a Inglaterra
para Cristo, e salvaram, pela graça de Deus, as ilhas britânicas de uma réplica
da Revolução Francesa. Foi falado a respeito de Whitefield, 'Do momento que ele
começou, como um jovem, a pregar até a hora da sua morte, ele não conheceu
nenhum abatimento da paixão. Até o fim da sua incrível carreira, sua alma foi
uma chama de zelo ardente pela salvação dos homens'''.
3. Terceiro,
a plenitude do Espírito significa que o líder não está sozinho. Ele tem um
"assistente divino". Sem o Espírito, será que Filipe saberia que
precisava deixar o ministério frutífero em Samaria e viajar à Gaza para unir-se
ao carro do eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes (At 8.26-31)? Ou
será que Paulo teria exercido a coragem e o entendimento de desafiar Elimas, o
mágico, e puni-lo com cegueira, para que o procônsul de Chipre viesse a crer no
Senhor (At 13.7-1O)?
Permanece
de importância máxima que o líder saiba a mente do Senhor antes de tomar
decisões que venham afetar a sua vida e a vida de outras pessoas. Todos os
filhos de Deus devem ser guiados pelo Espírito (Rm 8.14) ou "andar no
Espírito" (GI 5.16,25), mas é ainda mais importante que o líder seja assim
liderado. Suas decisões afetam mais pessoas. Sua vida chama a atenção como um
modelo exemplar.
Sabedoria
A
igreja de Jerusalém tinha acabado de nascer quando as circunstâncias levaram a
Igreja e os apóstolos, a entender que eles eram incapazes de gerenciar o fundo
de distribuição às viúvas, além de seus outros deveres. Acrítica às práticas
injustas dessa distribuição estava bem fundamentada (At 6.1).
Os
apóstolos reconheceram a importância de manter o amor mútuo e a unidade na
igreja. Consequentemente, eles formaram a base para um segundo nível de
liderança, mais conhecido como "diaconia”. A sabedoria é a chave virtuosa
entre as qualidades que os sete homens precisavam. Como a igreja de Jerusalém
entendia esse termo? Uma vez que Tiago pastoreara aquela igreja depois que os
apóstolos se espalharam, podemos contar com sua ajuda para uma definição. Sabedoria
significa mais do que mera inteligência. Enquanto esta se refere à habilidade
de resolver problemas de forma correta pelo uso da razão e experiência; aquela
refere-se à inteligência divina. Soluções humanas aos problemas são avaliados
na base das vantagens que aquelas soluções trazem àqueles que estão
encarregados. Isso explica a descrição de "sabedoria” que Tiago chama de
terrena e natural (Tg 3.15). Esta é a motivação que produz um "sentimento
faccioso", o qual normalmente cria "inveja amargurada”.
A
sabedoria lá do alto, por outro lado, é "pura” (v.17). Isto é, livre de
contaminação facciosa. Ela produz paz, em vez de contenda e disputa. É
"gentil", ou seja, preocupada com o sentimento dos outros. É
"razoável", disposta a ceder e a negociar. A sabedoria celestial é
"plena de misericórdia", mostrando seu amor a outros. "Bons
frutos" caracterizam o resultado dessa sabedoria em ação. Onde a
"sabedoria" é usada, ações generosas e boas serão certamente
encontradas. Sabedoria significa prontidão e perseverança, além da ausência de
hipocrisia (T g 3.17).
Paulo
expressa a verdadeira natureza da sabedoria que vem de Deus como o caminho da
cruz pelo qual ele salva pecadores desamparados (1Co 1.19-25). Deus demonstra seu
amor incondicional pelos seus "inimigos", providenciando, através de
sua morte agonizante, completo perdão e reconciliação.
Através
da Bíblia, podemos ver vários exemplos de liderança sábia. Daniel é um dos
casos mais extraordinários. Ele decidiu não se contaminar com a escolha da
comida e da bebida do rei. Sua decisão não foi baseada em nutrição nem paladar,
mas, na convicção de que a Bíblia proibia a comida "impura", que ele
e seus três companheiros eram obrigados a comer (Dn 1.5,8). Já que Daniel era o
líder do grupo de judeus cativos, sua decisão influenciou-os a fazerem o mesmo.
Em sabedoria, Daniel não somente recusou comer o que Deus não permitira, mas
também, designou um plano pelo qual sua decisão não resultaria no desagrado do
rei. Os dez dias de teste foram suficientes para provar que legumes e água
eram, na verdade, mais saudáveis do que o cardápio do rei (Dn 1.15). Além do
mais, o Senhor deu sabedoria e inteligência para que os quatro jovens hebraicos
fossem dez vezes mais doutos do que todos os outros quando chegou a hora de
responder às perguntas do rei (v.20)
Daniel
deixou evidente seu hábito de oração, não mantendo-o em segredo, para que
assim, pudesse encorajar outros judeus cativos a continuarem buscando o Senhor
publicamente (Dn 6). Embora ele tenha sido lançado na cova dos leões, Deus
honrou sua escolha desprendida, preservando sua vida. Certamente, milhares de
judeus cativos foram fortificados em sua fé ao saberem que Daniel tinha
escolhido viver pela sabedoria celestial. Imagine o quanto foram encorajados ao
saberem que Deus preservara a Daniel das ameaças do seu inimigo! Na verdade, Daniel
saiu dessa situação mais forre do que nunca.
Daniel
corajosamente demonstrou que Deus era confiável se seus seguidores fossem
orientados pela sabedoria divina. Ele comunicou essa sabedoria teológica a
Nabucodonosor. Como um ditador antigo do Oriente, que reinou inteiramente por
sua ambiciosa inteligência humana, Nabucodonosor, não foi um aluno apto. Veja o
testemunho de Daniel acerca de Deus ao rei: "Seu domínio é sempiterno, e
seu reino é de geração em geração. Todos os moradores da terra são por ele
reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e
os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: 'Que
fazes?'" (Dn 4.34-35).
A
capacidade de Daniel para liderar, desde sua mocidade, cresceu da sua convicção
à respeito de Deus e da sabedoria que esse conhecimento instilara em seu
coração. Um líder, segundo o padrão de Deus, certamente demonstrará a sabedoria
lá do alto, concedida pelo Espírito Santo de Deus àqueles que, como Daniel,
buscam-na para si.
Fé
Lucas
não alista "fé" entre as qualidades que os apóstolos consideraram
essenciais para a liderança que cuidaria do fundo de distribuição das viúvas na
igreja de Jerusalém. Ele, porém, descreve Estevão como um "homem cheio de
fé" (6.5). Isso talvez sugira que essa tremenda qualidade em Estevão não
fosse necessariamente exigida de todos os homens selecionados pela igreja.
Certamente, é um traço espiritual central de todos que desejam ser líderes piedosos.
O
autor do livro de Hebreus afirma que "sem fé é impossível agradar a
Deus" (11.6). Deus nunca poderia agradar-se de um líder que exerce
autoridade em seu Reino, que não seja um homem de fé. A fé de Estevão excedera
na forma que interpretou a história da salvação de Israel. (At 7). Cada evento
é entendido à luz da intervenção e do soberano controle do Senhor sobre os
eventos passados. Aqui, não existe uma visão secular do passado como
historiadores escrevem hoje. Devido Estêvão ter podido detectar a mão de Deus
abençoando e julgando Israel, ele pôde ver a glória de Deus independentemente
dos planos assassinos dos judeus (7.55). Ele também pôde ver Jesus assentado à
direita de Deus e ter certeza que derrotas, na Terra, são vitórias, no Céu.
Paulo
também não interpreta os eventos recentes em sua vida, como marcas dos golpes
vencedores do diabo. Ele escreveu: "Porque não queremos, irmãos, que
ignoreis a natureza da tribulação que nos sobreveio na Ásia, porquanto foi
acima das nossas forças, a ponto de desesperarmos até da própria vida. Contudo,
já em nós mesmos, tivemos a sentença de morte, para que não confiemos em nós, e
sim no Deus que ressuscita os mortos" (2Co 1.8-9). O apóstolo via a
realidade pela lente da fé.
Amor
Existe
alguma qualidade de que um líder careça mais do que o amor? A civilização
ocidental se deteriora rapidamente devido ao egoísmo que penetra nossa cultura
atual. O "fazer algo de forma correta” tomou o lugar do "fazer o
bem". Essa é a nova prioridade do nossos dias, colocando o amor em segundo
plano. O controle de qualidade se tornou mais importante do que o sacrifício em
favor de outras pessoas. O "salvar a vida” por meio da "perda dela”
por Cristo e pelos necessitados não é mais algo popular, atualmente, embora
seja o ponto central daquilo que Jesus exige de seus seguidores (Lc 9.23-24). O
amor é mais importante no Novo Testamento do que os dons espirituais ou o
conhecimento (1Co 13; 8.1). Uma liderança sem amor é como um corpo sem o coração.
Morta e sem sentido, ela promove vaidade, em vez de maturidade cristã. Paulo
escreve para os Coríntios que o amor de Cristo nos constrange (2Co 5.14).
Significa que qualquer pessoa que sente intimamente o amor que Cristo tem por
ela, desejará segui-Io, e servi-Io. O custo do sofrimento e do esforço não é
importante. A mesma verdade é válida para relacionamentos entre líderes e
seguidores. A lealdade estabelece as raízes firmes nos corações daqueles que
sentem que seus líderes verdadeiramente os amam. É por isso que Jesus fez o
contraste entre o mercenário e o pastor, em João 10. O mercenário não é o dono
das ovelhas, nem se preocupa com o que acontece com elas. Quando o lobo
aparece, ele foge. Não sente nenhuma necessidade de arriscar sua vida pelo bem-estar
e proteção das ovelhas (vv.12,13). O amor do pastor, ao contrário, é tão íntimo
e sacrifical que ele dá a sua vida pelas
ovelhas (v. 11).
Amor
(agape) de caráter bíblico, não procura os seus próprios interesses, mas o
bem-estar de um irmão ou do próximo. Como o bom samaritano (Lc 10), ele se
alegra em dar de seu tempo, transporte e dinheiro para ajudar uma vítima de um
assalto. A palavra "benigno" (1Co 13.4) descreve essa qualidade. O
líder que se identifica com o sofrimento de um seguidor ganhará a sua lealdade.
O amor é a qualidade que aproxima o líder do grupo. Quando membros de uma
igreja sentem que seu o pastor os ama, o cinismo desaparece e a inveja evapora.
Porque
será que líderes políticos, na maioria das vezes, estão muito baixo na escala de
apreciação daqueles que votaram neles? A razão princi¬pal é que os eleitores
julgam pelas ações e atitudes que seus líderes têm, de não ter por eles maior
amor do que um leão faminto tem por um veado. Amor hipócrita não é convincente,
mas contraprodutivo.
Os dez princípios, apresentados
por Ted Engstrom, que seguem abaixo, ajudarão o líder a fazer do amor algo prático.
- 1. "Precisamos tomar a decisão de desenvolver amizades em que não exigimos nada em troca”. Essa é a base para o amor bíblico, incondicional e não manipulador.
- 2. "Deve haver um esforço consciente para nutrirmos um interesse autêntico por outras pessoas". Esse interesse deve procurar o benefício dos outros e não os nossos próprios interesses.
- 3. "Cada um de nós é uma criatura ímpar. Consequentemente, levaremos tempo, e muitas vezes um longo tempo, para conhecermos uns aos outros". Tempo expressa amor de modo prático.
- 4. "Comprometa-se a aprender como ouvir". Ouvir atentamente é difícil, especialmente quando a pessoa falando é monótona, mas isso expressa amor genuíno.
- 5. "Simplesmente, esteja presente, quer você saiba exatamente o que fazer ou não". Investir tempo em pessoas demonstrará o seu cuidado. Cuidar é amar.
- 6. "Sempre trate as pessoas de igual para igual". Ser um líder não faz de alguém melhor do que outros, nem mais valioso, aos olhos de Deus.
- 7. "Seja generoso com elogios legítimos e encorajamento". É impossível demonstrar amor através de criticismo amargo e depreciação dos outros. Os elogios carregam a mensagem oposta.
- 8. "Faça de seus amigos prioridade, preferindo-os antes de si mesmo". O amor não pode ser praticado sem demonstrar o valor de seus amigos a outros. Considerar cada um superior a si mesmo é uma ordem do Senhor (Fp2.3).
- 9. ''Aprenda amar a Deus com todo o seu coração, alma, mente, e força. Depois ame seu próximo como a si mesmo". O Senhor deixou claro que amar ao próximo está ligado com amar a Deus.
- 10. "Enfatize as qualidades e virtudes dos outros, não, seus pecados e fraquezas". Pecadores, somos todos; então, é importante que um líder não dê a impressão de que ele é perfeito, sem pecados, e seus seguidores são estúpidos e ruins.
Servilismo
Elisabeth
Elliot, cujo marido foi assassinado por índios aucas no Equador em 1956,
escreveu: "Creio que a Igreja será mais eficiente para levantar líderes,
quando nós começarmos a exemplificar a serventia [...] As pessoas, muitas
vezes, estão fazendo coisas normais quando Deus as chama para fazer aquilo que
se torna grandes coisas. Jesus disse, 'Se você está pronto para ser o último,
então, você será o primeiro. Se você está disposto para fazer coisas pequenas,
então, encarregarei você de muitas coisas'. É um dos paradoxos bíblicos onde o
princípio da Cruz entra em operação ¬você ganha, perdendo; e torna-se maior,
tornando-se menor. Quando nós, como Igreja, evitamos a Cruz, estamos nos
privando da possibilidade da verdadeira liderança espiritual. E, esse é o tipo
de liderança que precisamos hoje, mais do que nunca".
Precisamos
lembrar que a busca de homens para liberar os apóstolos da responsabilidade de
administrar o fundo de distribuição de recursos às viúvas na igreja em
Jerusalém direcionou homens para "servirem às me¬sas" (diakonein, At
6.2). Um termo que Paulo usa constantemente para descrever sua própria função é
"diácono" (servo).
O
professor E. E. Ellis do Seminário Sudoeste em Forth Worth, no Texas, depois de
um estudo minucioso das funções dos obreiros no Novo Testamento, fez o seguinte
comentário: "Quando as designações atribuídas aos companheiros de Paulo
são verificadas, fica clara a ausência de certos termos, não somente daqueles
que mais tarde se tornaram tradicionais para os líderes na Igreja, mas também,
os termos que identificam os dons e carismas espirituais especificados por
Paulo. Em suas cartas, nenhum de seus companheiros é chamado de profeta, professor
ou pastor, muito menos, ancião ou bispo. As designações mais usadas são, em
ordem de freqüência decrescente, sunergos ("cooperador"), adelphos
("irmão"), diakonos ("servo") e apostolos
("apóstolo").
Paulo
usa diakonos em próxima relação à "obreiro" (ergates) e
"ministros" (cf. 1Co 3.5, 9; 2Co 6.1, 4; 1Co 16.15-16). Os obreiros e
os ministros são aqueles que têm se dedicado ao serviço dos santos. Os dons de apostolado,
profecia, evangelista e pastor-mestre em Efésios 4.11 são distribuídos para a
promoção e o treinamento de cristãos para o trabalho do ministério (ergon
diakonias, v.12). Isso significa que nenhuma função na Igreja, sendo ela
exaltada, deve ser exerci da sem um "espírito de serventia". Paulo
usa o termo hupereta ("servo", etimologicamente, "remador de
baixo", em um navio a remo, 1Co 4.1), para enfatizar essa atitude humilde.
Jesus
reagiu à ambição da autopromoção dos discípulos com um ensino específico sobre
servilismo. Um pouco antes de celebrar a última ceia, Jesus notou que estavam contendendo
entre si sobre qual deles parecia ser o maior (Lc 22.24). Jesus contrastou seu
conceito de liderança com o quadro político da sua época: "reis"
locais exerciam sua autoridade tirânica sobre as pessoas e chamavam-se
"benfeitores". Os líderes cristãos necessitam ser "servos"(diakonon,
Lc 22.26; Mc 10.42-44).
Qual
foi a intenção de Jesus ao rejeitar a mentalidade da liderança de sua época?
Primeiro, ele não estava rejeitando o uso do poder. Gardner demonstra que o
poder não é para ser confundido com o status e o prestígio. O poder é a
capacidade de garantir o resultado que um líder deseja realizar, e prevenir
aqueles resultados que ele deseja evitar. "O poder [...] é, simplesmente,
a capacidade de trazer à superfície certas conseqüências almejadas no comportamento
de outras pessoas".
O
poder é um ingrediente necessário à liderança. Todo líder necessita um certo
grau de poder. Enquanto uma pessoa está subindo as escadas da autoridade
estruturada de uma organização, espera-se um aumento em seu direito de usar o
poder. O que determina a grandeza de um líder não é quanto poder ele tem, mas o
quão eficiente ele é em usufrui-lo.18 Um líder, que é servo, não busca poder
para auto-enriquecimento, mas para a glória do seu Mestre. Um servo que serve
bem não se preocupa com sua fama ou bem-estar, conquanto, possa realizar os
desejos do seu Senhor. John Gardner estava certo quando observou que
"poder reside em algum lugar",19 a menos que a organização esteja
afundando presa no oceano da inércia e da total incompetência, como o Titanic
na noite fatal de abril de 1912.
Jesus
falou de si mesmo: "Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser
servido, mas para servir (diakonein), e dar a sua vida em resgate por
muitos" (Mc 10.45). Servilismo para Jesus não significou renúncia de poder.
Seu ministério irradiou poder, curas, exorcismos, ensino e desafios à
religiosidade hipócrita. Contudo, Jesus renunciou ao uso de poder para seu
próprio conforto, fama ou satisfação. "Ele exercitou poder de forma
apropriada e para fins apropriados. Sua vida proporciona o exemplo positivo
sobre como o poder pode e deve ser usado".
A
mãe de Tiago e João esperava por posições maiores de liderança para seus filhos
no reino que Jesus planejava inaugurar. Não somente os filhos de Zebedeu creram
que o poder e a felicidade fossem sinônimos, mas também, os outros dez
discípulos tornaram-se ressentidos quando eles perceberam que as duas maiores
posições na organização tinham sido solicitadas. Eles também estavam tão
animados quanto Tiago e João para alcançar a autoridade e o poder no Reino.
Jesus, porém, comparou o conceito mundano de "grandeza" a sua própria
definição. "O Filho do Homem não veio
para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos"
(Mt 20.28).
Jesus,
embora Senhor de todos, exemplificou o servilismo de várias formas. Ele colocou
de lado sua própria vontade para fazer a vontade do Pai. No jardim do
Getsêmani, ele colocou de lado a tentação de insistir na sua própria
preferência para dar lugar a vontade do Pai (Mt 26.42).
Ele
rejeitou o trono (Jo 6.14,15), mas permitiu que seus atormentadores
coroassem-no com espinhos. Ele admitiu que, de fato, era o Messias (Mc
14.61,62), o Rei preanunciado de Deus, mas não reagiu com ira e condenação
contra aqueles que escarneceram dele, cuspiram nele e bateram na sua cabeça com
um caniço (Mc 15.19, 20). Embora todas as coisas tinham sido dadas por Deus em
suas mãos (Jo 13.3), ele resolutamente escolheu não usar aquele poder para seu
próprio benefício. Embora ele tivesse pouco lazer e descanso, ele teve tempo
para segurar bebês em seus braços e abençoar as criancinhas. Embora uma
multidão enorme lhe tivesse empurrado e apertado, procurando ajuda de todo o
tipo, ele teve tempo para um pequeno e desprezado coleto r de impostos pendurado
em uma árvore (Lc 19.1-10). Os pedidores de esmola, os leprosos e as mulheres
receberam sua atenção e ajuda, mesmo quando os discípulos tentavam protegê-lo
da exigência deles. Ele não se importou com a fama e o poder, que motivavam as
pessoas comuns, mas estava totalmente preocupado com a glória do Pai.
A
servilidade, para Jesus, demonstra-se na sua preocupação por outras pessoas e
suas necessidades, especialmente, daqueles que eram desprezados e rejeitados
pela própria sociedade. Ele não somente exigiu autonegação dos seus discípulos,
mas também, exemplificou-a em seu próprio viver. Jesus tinha uma missão a
cumprir, e não, deu importância alguma para os altos e poderosos líderes que
procuraram o bem-estar de si mesmos. "O zelo da tua casa me
consumirá" (Jo 2.17), direciona-nos para a base do desdém que Jesus sentiu
pela ambição e pelo poder que busca o seu próprio interesse, em vez da glória
de Deus.
A
atitude servil é enraizada em motivos corretos. Quando a glória de Deus é o
supremo prazer do servo, ele não tem nenhuma necessidade de fingir que é santo,
como os fariseus fizeram na época de Jesus (Mt 6.1-4). Ahipocrisia é antitética
a tudo que Jesus ensinava. Essa é a razão que ele atacou contra a pretensão
religiosa com denúncias tão contundentes (Mt 23). Jesus alertou os títulos
importantes que os escribas e fariseus apreciavam tanto. Nem
"mestre", nem "pai" e nem "líder" (kathegetes)
são apropriados para a atitude servil que é essencial à liderança (Mt 23.8-10).
A
atitude servil necessita crescer de uma avaliação correta das habilidades e da
autoridade de uma pessoa. No mundo, autoridade é herdada através do nascimento
nobre (como no caso de reis e todos aqueles que nascem em famílias com títulos
e nobreza), da ambição e da realização. Porém, para Jesus, autoridade e poder
são dons oferecidos por Deus para pessoas indignas. "Mas, a todos quantos
o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus [...]" (Jo
1.12), claramente afirma que o direito (exousian, "autoridade", veja
Mt 28.18) dos príncipes da família de Deus, o Rei da glória, é distribuído
liberalmente pelo Senhor Jesus. Quando Jesus contou a parábola dos talentos,
que três servos (douloi, "escravos") deviam ter dado de um a cinco
talentos cada (Mt 25.15), pode ter aparentado até irônico para a sua audiência.
O valor de um talento (c. 30 quilos de prata ou ouro) era muito mais do que um
artesão poderia ganhar em sua vida inteira. Jesus procurava enfatizar que
aqueles sem riquezas ou direitos estão sendo elevados (de alguma forma) ao
status de reis. Todavia, eles permanecem servos, que precisam prestar contas ao
seu Mestre (Mt 25.19-30). Embora cuidassem do dinheiro como se fosse deles
mesmos, não podiam jamais esquecer que, na verdade, não o era.
A
atitude servil pode ser melhor mantida em uma democracia do que numa autocracia
ou ditadura. Em um governo democrático, o líder é uma pessoa que não herda
autoridade, ou conquista-a pela força, mas ganha o privilégio de liderar. Os
membros da organização estão convencidos de que o seu líder escolhido resolverá
seus problemas mais eficazmente do que qualquer outro, senão, deixariam de
apoiá-lo. Porém, se um líder tem uma ambição não bíblica por poder, e portanto,
usa meios ilegítimos para consolidá-la em suas mãos, deverá ser lembrado do
alerta do Senhor. "Se aquele servo disser consigo mesmo: Meu senhor tarda
em vir, e passar a espancar os criados e as criadas, a comer, a beber e a
embriagar-se, virá o senhor daquele servo, em dia em que não o espera e em hora
que não sabe, e castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os infiéis" (Lc
12.4-46). De certa forma, Cheryl Forbes está certa: "Os cristãos precisam
dizer 'não' ao poder, individualmente e corporativamente", porquanto ela
entenda esse poder como algo ilegítimo e contrário ao espírito servil.
Richard
Foster observou: "Aqueles que não prestam contas a ninguém são
especialmente suscetíveis à influência corruptora do poder [...] Hoje, a
maioria dos pregadores de mídia e evangelistas itinerantes sofrem [...] da mesma falta de prestação de contas que os
profetas viajantes do século sexto sofreram".
É
verdade que líderes cristãos são, no final das contas, prestadores de contas a
Deus (1Co 4.5), mas uma avaliação justa de um companheiro de viagem da estrada
celestial pode ser um excelente lembrete de que a atitude de um servo necessita
ser mantida por toda a vida. Alguns líderes facilmente caem no erro que os
convence de que servir seus seguidores será interpretado como fraqueza. Porém,
os líderes que servem são mais eficientes do que os autocratas.24 A Bíblia
claramente demonstra as conseqüências de se fazer escolhas que transmitam poder
desp6tico. Roboão perdeu a maior parte do seu reino por seguir conselhos de
jovens que aconselharam-no dizendo que ele deveria reinar com um "dedo
mínimo mais grosso do que os lombos de meu pai" e forçar-lhes a carregar
um jugo mais pesado daquele que Saio mão impusera (1Rs 12.10,11). Os anciãos
estavam certos: "Se, hoje, te tornares servo deste povo, e o servires, e,
atendendo, falares boas palavras, eles se farão teus servos para sempre"
(v.7).
Conclusão
Nenhuma
virtude bíblica deve ser premiada mais em um líder do que a vida santa, a
sabedoria com discernimento, a plenitude do Espírito e um senso de servilidade
equilibrado. Deus usa homens com esses perfis.
Igrejas
e organizações que notam que essas qualidades estão em falta em seu meio,
necessitam clamar ao Senhor por avivamento. O caráter carnal da igreja de
Corinto pode ser facilmente explicado pelo orgulho dos líderes da igreja que
substituíram Paulo, um servo humilde do Senhor. Seu exemplo e alertas foram
insuficientes para implantar naquele lugar um espírito servil. Os efésios
perderam seu primeiro amor (Ap 2.5) devido à liderança defeituosa. O estado
moribundo da igreja de Sardes foi a conseqüência da liderança pobre (Ap 3.1-3).
A condição morna da igreja de Laodicéia foi o efeito natural de líderes
orgulhosos e auto-suficientes que contagiaram a igreja com o vírus mortal do
mundanismo (Ap 3.13-20).
Por: Russell Shedd
Extraído do livro: O Lider que Deus usa.
Muito ótimo este estudo sobre liderança, que Deus continue a levantar lideres segundo o sEu coração!
ResponderExcluirAmém Silvio, faço minhas as suas palavras.
ExcluirPor: Evandro Marinho