Certa vez, uma mulher me escreveu para dizer que pensava que o cristianismo era bom, mas ela, em particular, era ligada ao zenbudismo. Gostava de ouvir a rádio evangélica, enquanto dirigia, porque a música “aliviava o seu carma”. Mas, ocasionalmente, ela sintonizava um dos ministérios de ensino bíblico. Em sua opinião, todos os pregadores que ouvira tinham a mente muito fechada no que diz respeito a outras religiões; por isso, ela decidira escrever para vários pastores que ministravam no rádio e encorajá-los a terem a mente mais aberta.
“Deus não se importa com o que você acredita, contanto que seja sincero”, ela escreveu, ecoando uma opinião que tenho ouvido muitas vezes. “Todas as religiões nos levam, finalmente, à mesma realidade. Não importa que estrada você tome para chegar lá, contanto que siga com fidelidade o caminho escolhido por você mesmo. Não critique os caminhos alternativos que as outras pessoas escolhem.”
Para aqueles que aceitam a Bíblia como a Palavra de Deus, a loucura desse raciocínio deve ser logo evidente. Se as conseqüências do que acreditamos significam a diferença entre certo e errado, o agradar a Deus e o receber sua punição, a vida e a morte, então, precisamos ter certeza de que aquilo em que cremos está baseado num pensamento claro. Em outras palavras, precisamos exercitar o discernimento.
De fato, o discernimento está tão na moda, em nossa cultura, quanto a verdade absoluta e a humildade. Fazer distinções e julgamentos claros contradiz os valores relativistas da cultura moderna. O pluralismo e a diversidade têm sido exaltados como virtudes mais elevadas do que a verdade. Não devemos estabelecer limites definitivos ou afirmar qualquer absoluto. Isto é considerado retrógrado, antiquado, deselegante. E, embora esta atitude para com o discernimento bíblico seja esperada do mundo secular, ela tem sido lamentavelmente abraçada por um número cada vez maior de cristãos evangélicos.
Como resultado, o evangelicalismo tem começado a perder as características que o distinguia do mundo – preferindo freqüentemente a tolerância à verdade. A maioria dos evangélicos não está aceitando o islamismo, hinduísmo ou outras religiões anticristãs. Entretanto, muitos parecem imaginar que não importa realmente o que você crê, contanto que tenha o nome de cristão.
Com exceção de algumas seitas que rejeitam ostensivamente a Trindade, quase tudo o mais que for ensinado em nome de Cristo é aceito pelos evangélicos – desde o catolicismo romano (o qual nega que os pecadores são justificados somente pela fé) ao movimento Palavra da Fé (que corrompe a doutrina de Cristo, ao fazer da saúde e da riqueza temporal o foco da salvação).
Em nome da unidade, esses assuntos de doutrina jamais devem ser contestados. Somos encorajados a insistir em nada mais do que uma simples afirmação de fé em Jesus. Além disso, o conteúdo específico da fé deve ser um assunto de preferências pessoais.
É claro que esta atitude geral de aceitação não é nova; a igreja tem travado uma luta contínua sobre o assunto de discernimento doutrinário, pelo menos desde o início do século XX. Este mesmo apelo para que tenhamos uma mente mais aberta no que concerne a padrões e crenças religiosas sempre esteve no topo da agenda do liberalismo teológico. Na verdade, isto é exatamente o que o termo liberal significava originalmente. A novidade nos apelos à tolerância, em nossos dias, é que eles vêm de dentro do evangelicalismo.
Nada é mais desesperadamente necessário à igreja contemporânea do que um novo movimento para enfatizar, outra vez, a necessidade de discernimento bíblico. Sem um movimento assim, a verdadeira igreja está em sérios apuros. Se a ânsia atual por um compromisso ecumênico, santificação pragmática e sucesso numérico continuar ganhando espaço no evangelicalismo, o resultado sera um desastre espiritual absoluto.
Este livro, portanto, é um apelo ao discernimento. É um lembrete de que a verdade de Deus é um bem precioso que deve ser tratado com cuidado – e não diluído em crenças extravagantes ou amarrado às tradições humanas. Quando igrejas ou crentes individuais perdem sua resolução de discernir entre a sã doutrina e o erro, entre o bem e o mal, entre a verdade e a mentira, eles se abrem a todo tipo de engano. Mas aqueles que aplicam consistentemente o discernimento bíblico, em todas as areas da vida, podem ter a certeza de caminhar na sabedoria do Senhor (Pv 2.1-6).
Em contraste, os crentes contemporaneous se conformam com a opinião de que poucas coisas precisam ser definidas com exatidão. Assuntos doutrinários, questões morais e princípios cristãos são todos classificados como ambíguos. Toda pessoa é encorajada a fazer aquilo que é certo aos seus próprios olhos – exatamente o que Deus proíbe (Dt 12.8; Jz 17.6; 21.25).
A igreja jamais manifestará seu poder na sociedade, se não recuperar um amor ardente pela verdade e aversão à mentira. O verdadeiro crente não pode fechar os olhos ou negligenciar as influências anticristãs em seu meio, esperando desfrutar das bênçãos de Deus.
“E digo isto a vós outros que conheceis o tempo: já é hora de vos despertardes do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto do que quando no princípio cremos. Vai alta a noite, e vem chegando o dia. Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz” (Rm 13.11-12).
Portanto, “também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção, para aprovardes as coisas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o Dia de Cristo, cheios do fruto de justiça, o qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus” (Fp 1.9-11).
por: John MacArthur
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(Extraído do livro Ouro de Tolo?, Editora Fiel, São José dos Campos, SP)
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