É só uma sugestão. Acho que posso
sugerir, pois fui criado numa denominação fundamentalista e mesmo que não
pertença a ela hoje, continuo a ser chamado assim. Portanto, segundo meus
críticos, devo entender razoavelmente do assunto.
Creio na inerrância das
Escrituras. Isto não quer dizer que eu creio que a Bíblia foi ditada
mecanicamente por Deus, que ela caiu pronta do céu, que sua linguagem é
científica, que não há erros nas cópias, que as traduções são inerrantes, que
as cópias em manuscritos existentes são inerrantes, que a Bíblia é exaustiva e
que tudo que está na Bíblia é fácil de entender e interpretar. Quer dizer que
eu acredito que os manuscritos originais foram infalivelmente inspirados por
Deus e que, em conseqüência, a Bíblia é verdadeira em tudo o que afirma. Creio
que pelas cópias existentes podemos ter segurança do que havia nos originais e
que muito dos debates sobre os manuscritos e as partes polêmicas e difíceis de
interpretar não afetam a compreensão correta do todo. Em resumo, eu quero dizer
apenas isto, que a Escritura é a única regra de fé e prática para a Igreja
Cristã.
Creio na divindade de Jesus
Cristo. Isso não quer dizer que eu negue sua plena humanidade, a realidade de
suas tentações, a sua preocupação com os pobres e as questões sociais. Não quer
dizer que eu negue que ele foi gente de verdade, capaz de rir, de chorar, que
passou por perplexidades e que aprendeu muita coisa gradativamente como as
outras pessoas. Quer dizer tão somente que creio que é era verdadeiro Deus e
verdadeiro homem, muito embora eu não tenha todas as respostas para as
perguntas levantadas pela doutrina das suas duas naturezas. Quer dizer que sua
morte na cruz tem eficácia para perdoar meus pecados, visto que não era um mero
homem morrendo por suas próprias faltas. Sua vida, suas ações e seus movimentos
podem servir de modelo para mim, embora sua religião não possa, pois ele não
era cristão, como eu já disse em um outro artigo. [Jesus não era cristão]
Creio na ressurreição física de
Cristo de entre os mortos. Isso não quer dizer que eu coloque o corpo acima do
espírito e nem que eu seja um ingênuo que ignora o fato que cadáveres não
revivem cotidianamente. Também não quer dizer que eu ignore as tentativas de
explicações alternativas existentes para o túmulo vazio, a falta do corpo de
Jesus até hoje e a mudança de atitude dos discípulos. Também não quer dizer que
eu acredito que Jesus hoje apareça diariamente às pessoas. Quer dizer que eu
creio que ele realmente ressurgiu dos mortos e que vive eternamente com aquele
corpo ressurreto e glorioso, com o qual retornará em data não sabida a esse
mundo, para buscar os seus e julgar os demais. Creio que a ressurreição de
Cristo é essencial para o Cristianismo. Se Cristo não ressuscitou fisicamente
dos mortos, o Cristianismo é uma farsa.
Creio em todos os milagres que a
Bíblia relata. Isso não quer dizer que eu acredite que milagres acontecem todos
os dias, que milagres contemporâneos são indispensáveis para que eu acredite em
Jesus Cristo, que Deus cura somente pela fé e que tomar remédio e ir ao médico
é pecado. Também não quer dizer que eu acredite que os milagres narrados na
Bíblia foram coincidências com fenômenos naturais, interpretados pelos antigos
como ações de Deus, como uma enchente de barro vermelho no Nilo que parecia
sangue, um tremor de terra exatamente no mesmo momento em que Josué mandou
tocar as trombetas em Jericó ou um eclipse na hora que ele mandou o sol parar.
Quer dizer que eu creio que os milagres bíblicos realmente aconteceram conforme
estão escritos, que não são mitos, lendas, sagas, estória sagrada ou midrashes.
Creio que Deus, se quisesse, poderia fazê-los todos de novo hoje apesar de que,
mesmo assim, os incrédulos continuariam a procurar outras explicações.
Creio em verdades absolutas. Isto
não quer dizer que eu ignore que as pessoas têm diferentes compreensões de um
mesmo fato. Quer dizer apenas que, para mim, quando não se complementam, tais
diferentes compreensões são contraditórias e uma delas – ou várias – devem
estar erradas. Acredito nas doutrinas centrais da fé, em absolutos morais, em
leis transcendentes de aplicação universal, em declarações unívocas e também
que Deus se revelou de maneira proposicional nas Escrituras.
Creio em tolerância. Isto não
quer dizer que eu seja inclusivista e relativista, mas simplesmente que não
deixarei de me relacionar com uma pessoa simplesmente porque considero que ela
está equivocada teologicamente. Para mim, a tolerância pregada pelo mundo
moderno é aquela característica de pessoas que não têm convicções, que não têm
opiniões formadas sobre nada e que vivem numa perpétua metamorfose ambulante.
Eu acredito que é possível, sim, ter convicções profundas – especialmente na
área de religião – e ainda assim se manter o diálogo com quem diverge.
Creio que somente mediante a fé
em Jesus Cristo como único Senhor e Salvador é que as pessoas podem ser
perdoadas e salvas. Isto não quer dizer que eu desconheça o fato de que existem
pessoas de bem, honestas, sinceras e de boa conduta entre aqueles que não
acreditam em Deus e muito menos em Cristo. Tampouco quer dizer que todos
aqueles que têm fé em Jesus Cristo são perfeitamente bons, justos e santos. O
que eu quero dizer é que somos todos pecadores, uns mais, outros menos, uns
ostensivamente, outros em oculto, e que somente pela confiança no que Cristo
fez por nós é que poderemos ser aceitos por Deus – e não por méritos pessoais.
Neste sentido, acredito que fora da fé em Cristo não há salvação, perdão ou
reconciliação com Deus.
Tem mais coisa a ser incluída
neste credo fundamentalista, mas só isto já está bom. O que eu quero mostrar é
que tem muita gente que tem o mesmo credo acima e que é fundamentalista sem
saber.
Por:Augustus Nicodemus
Fonte: Teologia Brasileira
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