quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A oracao na vida e no "Ministerio do Pastor" | Mark Dever

A oração é um assunto que muitos de nós endossamos, mas, na realidade, pensamos muito pouco sobre este assunto. Não estou falando a respeito da oração em geral, e sim da oração na vida e no ministério do pastor.

Na única epístola que temos em mãos escrita por Judas, irmão de Jesus, achamos uma advertência fervorosa contra os falsos ensinadores, que estavam invadindo e iludindo a igreja. Judas escreveu de modo sarcástico a respeito deles. Após descrevê-los e rejeitá-los, ele contrasta, no versículo 20, o verdadeiro cristão e os verdadeiros líderes da igreja com os homens não-espirituais.

“Vós, porém, amados, edificando-vos na vossa fé santíssima, orando no Espírito Santo.”

A grande preocupação de Judas, expressa nesta carta, era que a igreja (ou as igrejas) fosse protegida da falsa doutrina e edificada na verdade. No final da epístola, no versículo 20, lemos: “Orando no Espírito Santo”. No Novo Testamento, há várias passagens em que os crentes são exortados a orar desta maneira. (Ver Efésios 6.18; Tiago 5.16 e Romanos 8.26-27.) Por que isso? Deve haver uma razão para que esse tipo de oração seja tão freqüentemente mencionado nas páginas do Novo Testamento. Isso deve nos sugerir algo sobre a importância da oração.

Esta oração no Espírito Santo não é um tipo especial de oração em línguas, ou êxtase particular, que alguns crentes fazem ou não fazem. Pelo contrário, é o tipo especial de oração que os verdadeiros crentes fazem e que os falsos ensinadores não fazem. Isto significa orar de acordo com a vontade do Espírito Santo e à luz do seu poder. É orar em harmonia com o desejo expresso de Deus e com a verdade do evangelho. Esta maneira de orar contrasta-se com os falsos ensinadores, que, de acordo com o versículo 19, não têm o Espírito.

A batalha contra o ensino falso, contra as divisões e contra os pecados que aqueles crentes enfrentaram não podia ser vencida na força deles mesmos. Não podiam simplesmente edificar a igreja com base em argumentos. Deus mesmo tinha de estar envolvido na edificação da igreja; portanto, aqueles crentes precisavam invocar a ajuda e orientação de Deus, sua presença e poder com eles. O cristianismo não é uma invenção da mente; não é convencer a si mesmo por meio de argumentos ou de emoções. Pelo contrário, o cristianismo é uma questão de viver genuína e realmente em Deus. Nós, os crentes, não olhamos para o mundo usando óculos cor de rosa, ignorando a realidade, imaginando que existe um ser supremo. Não! Vivemos da maneira como vivemos porque estamos em comunhão com Deus, porque O conhecemos e vivemos com Ele.

A oração nos focaliza em nossa dependência de Deus. Certa vez, o cachorrinho de Martinho Lutero veio à mesa e esperava ansiosamente receber uma porção de comida da parte de seu dono. Ao ver seu cãozinho implorando, com a boca aberta e os olhos imóveis, Lutero disse: “Oh! Se eu pudesse orar da mesma maneira como este cachorro espera pela comida! Todos os seus pensamentos estão concentrados no pedaço de carne. Ele não tem qualquer outro pensamento, desejo ou esperança” (Luther’s Tabletalk, 18 de maio de 1532).

A ORAÇÃO PARTICULAR

Nossa vida de oração é importante tanto em seu aspecto particular como no aspecto público. No aspecto particular, temos de vivenciar nossa confiança em Deus, e muito disso procede da realidade da oração. Em tempos bons, nos humilhamos em oração, louvamos e agradecemos a Deus por tudo que está indo bem. Lembramos a nós mesmos que somos apenas servos indignos. Em tempos difíceis, encorajamos a nós mesmos por meio da oração, recordando que, em última análise, nos tempos difíceis a obra é de Deus. Descobrimos que Deus nos ensina por meio da oração. Em uma situação difícil, talvez comecemos a suplicar que Deus remova a provação. Contudo, à medida que meditamos mais no viver de Cristo, geralmente nos volvemos à oração, rogando que Deus nos purifique por meio da provação. Somos doutrinados por meio dessas provações, enviadas com a permissão de nosso amado Pai celestial. Essa foi a experiência de Paulo relatada em 2 Coríntios 12. Em nossa própria vida, sabemos que existem pecados obstinados, membros da família que não se arrependem, inquietações e cuidados com os quais gastaremos anos de oração, mas o resultado de nossa perseverança nunca é que confiamos menos em Deus; pelo contrário, o resultado é que passamos a amá-Lo mais e a confiar mais nEle. Vemos o evangelho e sua suficiência. Chegamos a apreciar o que Deus nos tem dado, em vez de nos preocuparmos com o que Ele não nos dá. Em que outro lugar, além do quarto de oração particular, aprendemos essas lições?

A oração confiante louva a Deus como fiel, digno, cuidadoso, inestimável e bom. Sugere que Deus tem um relacionamento importante e autêntico conosco. Reconhece que nosso ministério procede dEle e gira em torno dEle. Mostra que O reconhecemos como o Grande Pastor, que todo rebanho que pastoreamos é o rebanho dEle e, como afirma a Carta aos Hebreus, que Lhe prestaremos conta de cada uma de suas ovelhas incluídas no rebanho que pastoreamos.

A ORAÇÃO PÚBLICA

A oração pública nos une em nossas congregações. Quando apresentamos as necessidades diante do Senhor, estamos buscando-O, para confiar nEle e exultar na completa dependência dEle. Quando oramos em voz alta, diante da congregação, nossos irmãos e irmãs ouvem algo a respeito de nosso sentimento de dependência de Deus, amando-O e regozijando-se nEle. Levamos o nosso povo a amar e descansar em Deus, nosso Pai. A oração pública nos ajuda a nos tornarmos os “principais confiantes”, os principais glorificadores de Deus, à medida que somos exemplos de lançar sobre o Senhor os nossos cuidados e deixá-los ali. Podemos ser exemplos de meditação cuidadosa e prudente sobre a grandeza de Deus, sobre os nossos pecados e intercedermos pelos outros e pelas necessidades de outras congregações. A oração pública revela algo sobre o coração do pastor.

E, naqueles tempos em que estamos desanimados, irmãos, vamos ao Senhor. Um de meus livros favoritos é a autobiografia de John Bunyan, intitulada Grace Abounding to the Chief of Sinners (Graça Abundante ao Principal dos Pecadores). Em certo momento, Bunyan descreve as tentativas de Satanás para desencorajá-lo quanto à oração. Eis o relato de Bunyan:

Ora, estando as Escrituras abertas diante de mim, e o pecado, à minha porta, aquele versículo de Lucas 18.1, juntamente com outras passagens, me encorajou a orar. Mas o tentador apareceu novamente, sugerindo: “Nem a misericórdia de Deus, nem o sangue de Cristo dizem respeito a mim ou podem ajudar-me em meu pe-cado. Por isso, será inútil orar”. Apesar disso, eu pensei: vou orar. Mas o tentador disse: “Seu pecado é imperdoável”. Eu pensei: Bem, vou orar. Ele disse: “Não há proveito nisso”. Mas eu disse: vou orar. Assim, saí para orar com Deus. E, enquanto estava em oração, disse: “Senhor, Satanás me fala que nem a tua misericórdia nem o sangue de Cristo são suficientes para salvar minha alma. Senhor, eu Te honrarei ao máximo, crendo que Tu queres e podes? Ou honrarei a Satanás, crendo que Tu não podes e não queres? Senhor, eu Te honrarei, crendo que Tu queres e podes.

Que Deus nos dê essa perseverance em oração! Para edificarmos a nós mesmos e aos outros na fé santíssima, devemos, como pastores e ministros da Palavra, nos dedicar à oração particular e pública, orando regularmente no Espírito.

Oamor de Cristo nos constrange a responder sim. Sentimos tanto amor fluindo da morte de Cristo para nós, que descobrimos nossa morte na morte dEle — nossa morte para todas as lealdades rivais. Somos tão dominados (“constrangidos”) pelo amor de Cristo, que o mundo desaparece, como que diante de olhos mortos. O futuro abre um amplo campo de amor. Um cristão é uma pessoa que vive sob o constrangimento do amor de Cristo. O cristianismo não é meramente crer num conjunto de doutrinas a respeito do amor de Cristo. É uma experiência de ser constrangido por esse amor — passado, presente, futuro. Veja como Charles Hodge expressou isso:  
“Um cristão é alguém que reconhece a Jesus como o Cristo, o Filho do Deus vivo, como Deus manifestado em carne, que nos amou e morreu por nossa redenção. É também uma pessoa afetada por um senso do amor deste Deus encarnado, a ponto de ser constrangida a fazer da vontade de Cristo a norma de sua obediência e da glória de Cristo o grande alvo em favor do qual ela vive”. 
Como não viver por Aquele que morreu nossa morte, para que vivamos por sua vida? Ser um cristão é ser constrangido pelo amor de Cristo.


Por Mark Dever (Editora Fiel)
(Extraído de Uma Vida Voltada para Deus, John Piper,
Editora Fiel, São José dos Campos, SP, p. 51.)

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