Quando comparados, eu prefiro um cristão maduro que tenha conhecimento
teológico simples do que outro extremamente culto, versado, mas sem
maturidade nenhuma. Mas, é claro que nenhuma dessas situações é
desejável. Vou explicar.
Uma história com dois extremos
De um lado, temos o Sr. Rato-de-Biblioteca. Ele não completou ainda
trinta anos de idade. É muito inteligente. Já leu Calvino, Edwards,
Lutero e Bavinck. Conhece Warfield e Hodge, Piper e Carson, também.
Desde que aceitou o Senhor na época da faculdade, o Sr. Rato tem buscado
conhecimento. Ele ouve uma dúzia de sermões por semana no seu iPod. Tem
mais discernimento sobre debates teológicos da atualidade do que a
maioria dos pastores. Adora conferências cristãs — as boas,
consistentes. O Sr. Rato sabe tudo sobre hermenêutica, propiciação,
teologia da aliança, princípio regulador, e o ordo salutis. Está até aprendendo um pouco de Grego, Hebraico e Latim já sabe um pouquinho e, se tiver tempo, vai aprender ugarit.
O Sr. Rato é inteligente, sério na sua fé, e quer servir o Senhor.
Mas tem vinte e poucos anos e não é maduro. Em termos de conhecimento,
está muito adiantado, mas quanto à sabedoria, está começando. Não comete
pecados grosseiros, apenas pecadinhos. Na escala da verdade, não mente.
É chato, quase ridículo, excessivamente franco. Não tem senso de
proporções. Ele não percebe que um debate de pressuposto e
evidencialista de apologética não é tão sério como Atanásio versus
Ariano. Para ele tudo é uma questão de prioridade porque não há outro
tipo de assunto.
Para piorar a situação, o Sr.Rato fala demais. Considera toda
conversa como um debate. Ele é teimoso. Não faz perguntas. As pessoas
têm medo dele e ele não sabe por quê. A não ser aqueles que concordam
totalmente com ele, não tem muitos amigos. Não pretende ser rude ou
arrogante. Na verdade, ele consegue ser um cara simpático. O problema é
que ele sabe tanta coisa que não consegue usar o seu conhecimento com
sabedoria ou elegância.
No outro extremo está o Sr. Simples-Fé. É cristão há quarenta anos.
Ora e lê a Bíblia todos os dias. Criou quatro filhos piedosos. Está
casado há mais de trinta anos. É calmo, sincero e respeitado por todos.
Mas não devora livros. Nunca leu muito. Lê dois a três livros por ano, e
um deles deve ser um livro cristão, alguma coisa leve. O Sr. Simples
tem instintos teológicos decentes. Ele sabe que a Bíblia é a verdade,
que Jesus é o único caminho para Deus, que o inferno é real, e que não
podemos merecer o caminho para o céu. É ortodoxo, mas além do básico é
bastante ignorante e, francamente, não está muito interessado em
teologia.
Portanto, qual dos dois você preferiria ter como diácono em sua
igreja? O Sr. Rato é mais impressionante, mas o Sr. Simples
provavelmente vai tomar decisões melhores e vai ser recebido melhor
pelos membros da congregação. Pessoalmente, eu prefiro a maturidade
ultrapassando o conhecimento em vez do contrário.
Aprendendo a pilotar de Maneira Certa
Nem é preciso dizer que o alvo é ter os dois. Um cristão maduro sem
um pouco de conhecimento teológico não atinge o seu potencial. Um
cristão que tem conhecimento sem maturidade tem potencial que não sabe
como utilizar.
Um cristão teologicamente astuto, imaturo é como um menino de cinco
anos de idade pilotando um helicóptero Apache. Vejam que arma poderosa:
pode destruir argumentos e defender-se contra heresia; pode voar para o
céu e ter visões gloriosas que aquele que está no nível do mar não
percebe. Este helicóptero teológico é tão bom para busca e salvamento
quanto para descobrimento e destruição. Todo exercito congregacional
deveria ter um veículo desses. É rápido. É furioso. É impressionante.
Mas também é perigoso. E com um menino de cinco anos no controle (ou
seja lá o que for), algumas pessoas vão se machucar. Não é que um menino
não possa ter um helicóptero, mas seria bom que tomasse lições de vôo
depois de adulto.
Por outro lado, um cristão maduro satisfeito com um conhecimento
teológico rudimentar é como uma pessoa de 45 anos de idade pilotando um
triciclo. Verdade, ele consegue andar de triciclo, mas não pode andar
depressa nem vai muito longe. Fica limitado em termos do que pode ver e
experimentar. Não pode fazer muito para enfrentar inimigos ou escalar
alturas. É firme, mas não tão firme quanto poderia ser. O alvo no
discipulado é que nós não temos de escolher entre meninos pilotando
helicópteros e adultos andando de triciclos. Queremos pilotos maduros
pilotando máquinas complicadas. Nosso alvo é que o Sr.
Rato-de-Biblioteca se transforme no Sr. Cabeça-e-Coração e que o Sr.
Simples-Fé aprenda a ser o Sr.Verdade-Profunda.
E se nossas congregações ainda não chegaram a este equilíbrio, pelo menos podemos arranjar um instrutor próprio para os meninos e apressar o treinamento dos adultos.
Por: Kevin DeYoung
Tradução: Yolanda Mirdsa Krievin
Fonte: Blog Fiel
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