segunda-feira, 10 de março de 2025

Qual a diferença entre crente, evangélico e católico? | Augustus Nicodemus

A palavra "crente", em seu sentido amplo, refere-se a qualquer pessoa que afirma crer em Deus e em Cristo. No entanto, dentro do contexto evangélico, o termo ganhou um peso radical: não se trata de mera identificação religiosa ou tradição herdada, mas de uma conversão pessoal e transformadora a Cristo, marcada por uma fé viva e comprometida com os princípios das Escrituras. Enquanto o catolicismo romano frequentemente se contenta com uma fé ritualística e passiva, os evangélicos rejeitam essa superficialidade, exigindo uma adesão consciente e prática aos ensinamentos bíblicos, sem concessões ao formalismo vazio.  

O termo "evangélico" surge como um protesto direto contra os desvios doutrinários da Igreja Católica Romana. Durante a Reforma Protestante do século XVI, liderada por Lutero, Calvino e outros, a autoridade papal e as tradições humanas foram confrontadas com a verdade incontestável da sola Scriptura (somente a Bíblia). Os evangélicos rejeitaram veementemente a ideia de que a salvação pudesse ser negociada por meio de sacramentos, indulgências ou intermediação clerical — práticas que o catolicismo mantém até hoje, distorcendo o evangelho. Para os evangélicos, a salvação é exclusivamente pela graça (sola gratia) e somente pela fé (sola fide) em Cristo, sem a necessidade de uma hierarquia religiosa que se coloque como "portadora" da graça divina.  

Já o catolicismo romano se distingue por sua submissão à tradição e ao magistério papal, frequentemente colocados acima das Escrituras. A Igreja Católica acumulou, ao longo dos séculos, doutrinas extrabíblicas — como a veneração de santos, a mariolatria, o purgatório e a transubstanciação — que os reformadores denunciaram como invenções humanas que desvirtuam o evangelho. Enquanto os evangélicos pregam o sacerdócio universal de todos os crentes (1 Pedro 2:9), o catolicismo mantém um sistema clericalista, no qual a salvação é supostamente mediada por ritos e sacramentos controlados pela instituição. 

Além disso, o Concílio de Trento (1545-1563), resposta da Igreja Católica à Reforma, condenou explicitamente os princípios evangélicos, declarando anátema quem ousasse afirmar que a justificação é somente pela fé — um posicionamento que até hoje marca a incompatibilidade teológica insuperável entre as duas vertentes.  

Em resumo, enquanto o evangélico fundamenta sua fé exclusivamente na Bíblia e na obra completa de Cristo na cruz, o católico permanece preso a uma estrutura religiosa que mistura graça com mérito humano, subordinando a salvação a ritos e tradições impostos pela hierarquia clerical. Ainda que alguns católicos se declarem "crentes", sua fé é frequentemente diluída por práticas questionáveis que contrariam o cerne do evangelho. A verdadeira diferença, portanto, não está apenas na nomenclatura, mas em quem detém a autoridade: para os evangélicos, é a Palavra de Deus; para os católicos, é a instituição que, historicamente, perseguiu aqueles que ousaram desafiar seus dogmas. Essa divisão não é mera disputa teológica — é um abismo intransponível entre a verdade bíblica e um sistema que ainda insiste em obscurecê-la.

Augustus Nicodemus

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