Havia um pastor episcopal que era
muito preguiçoso e há muito tempo já havia desistido de preparar os seus
sermões. Sua congregação era de pessoas de pouco cultura, Ele tinha o dom da
oratória, de modo que era muito fácil para ele pregar sem qualquer preparação.
Além de preguiçoso, ele também era muito piedoso, de modo que racionalizava sua
preguiça como muitas vezes os piedosos fazem. Ele fez um voto muito solene:
jamais voltaria a preparar os seus sermões, falaria de improviso e confiaria
que o Espírito Santo lhe daria o que falar. Por alguns meses, tudo correu muito
bem.
Certo dia, faltando 10 minutos
para as 11 horas, na manhã de domingo, um pouco antes de o culto começar, quem
entra pela porta da igreja? O bispo. Era uma visita de surpresa. Ele sentou-se
num dos bancos. O pastor ficou imaginando o que deveria fazer. Não havia
preparado o seu sermão. Pensou que podia enganar a congregação, mas sabia que
não conseguiria enganar o visitante. Ele foi até ao bispo, cumprimentou-o e lhe
disse: “Acho que devo explicar-lhe uma coisa. Alguns anos atrás eu fiz um voto
de que nunca iria preparar os meus sermões, mas confiaria no Espírito Santo”.
“Está tudo bem”, disse o bispo, compreendendo muito bem a situação. O culto
começou, mas, no meio do sermão, o bispo levantou-se e saiu. Quando o culto
terminou, o pastor foi para o vestíbulo da igreja. Encontrou sobre a mesa um
bilhete com a letra do bispo e nele estava escrito o seguinte: “Eu te absolvo
do teu voto”.
Agora quero contar-lhes outra
história, desta vez, de um pastor presbiteriano arrogante. Este pastor morava
ao lado da igreja. Ele costumava vangloriar-se de que todo tempo que precisava
para se preparar era o tempo que gastava para ir de casa à igreja. Você pode
imaginar o que os presbíteros fizeram. Mudaram a casa para 8 km de distância.
Assim, ele tinha mais tempo para preparar os sermões.
Agora, para os batistas eu queria
citar o caso de Spurgeon ter como hábito vir ao púlpito despreparado. Dizer
isso de Spurgeon seria um erro imperdoável!
Espero que concordem comigo que
temos que preparar nossos sermões. Como fazer isto? É uma questão muito
subjetiva. Não há maneira única de preparar sermões. Cada pastor tem que
fabricar o seu próprio método. Seria um erro simplesmente copiar um do outro.
No entanto, penso que a maioria passa por 5 estágios na preparação depois de
ter escolhido o texto. É sobre esses que quero falar-lhes. Vamos partir do
princípio de que você já tenha escolhido o texto.
1º. Estágio - Meditar sobre o
texto
- É necessário ler e reler o texto bíblico.
- Depois tem que lê-lo e relê-lo mais uma vez.
- É preciso fazê-lo girar em sua mente, vez após vez.
- É necessário ruminá-lo como o animal bovino rumina o capim.
- Sugá-lo como o beija-flor suga a flor.
- Chupá-lo como uma criança chupa uma laranja, até que não haja mais nada para tirar dela.
- É preciso preocupar-se com o texto como um cachorro preocupa-se com o seu osso.
Talvez você esteja se
perguntando: o que significa a palavra “meditar”? Acho que é uma combinação de
estudo e oração. Gosto de passar o tempo de meditação ajoelhado, com a Bíblia
aberta à minha frente, não porque eu adore a Bíblia, mas porque adoro o Deus da
Bíblia. A posição de estar de joelhos é uma posição de humilde expectativa. À
medida que eu estudo aquele texto, usando a mente que Deus me deu, estou
clamando ao Espírito Santo por iluminação. Meditação é estudo regado com
oração.
Conheço pastores que são grandes estudantes.
Precisavam ver as suas bibliotecas. As paredes estão cobertas de livros. E
sobre suas mesas há pilhas e pilhas de comentários, de dicionários e de chaves
bíblicas. Parecem estar sempre afogados em livros. Eu admiro seu estudo, mas
eles não oram muito.
Eu conheço pastores que cometem o
erro oposto. São grandes homens de oração, mas não estudam muito. Vamos manter
juntos estudo e oração. 2 Timóteo 2.7 é um grande texto. Nele, Paulo escreve:
"Considera o que digo, porque Deus te dará compreensão em todas as coisas" . Nós fazemos a nossa parte, que é estudar ou considerar, e Deus dá o entendimento. Não devemos separar aquilo que Deus uniu.
Enquanto você medita, é bom fazer
perguntas a si mesmo. Pergunte-se:
- “O que o texto quer dizer?”,
- “O que o texto diz?”.
Primeiro, você estará tratando do significado do texto e, em segundo
lugar, você estará tratando da mensagem do texto para o dia de hoje.
Precisamos perguntar-nos as duas
coisas. Precisamos perguntá-las na hora certa. Muitos pastores estão tão
ansiosos em conseguir uma mensagem para hoje, que não se disciplinam em
descobrir o significado do texto, e não chegam a descobrir a sua mensagem para
os dias de hoje. Precisamos manter os dois juntos, em equilíbrio.
Não posso falar agora sobre
interpretação bíblica, mas quero dar-lhes um princípio básico. Foi enunciado
por um homem chamado E.D. Hirsh. Seu livro é chamado "Validade na
Interpretação". Nesse livro ele não trata apenas de intepretação bíblica.
Os princípios são os mesmos
quando você interpreta qualquer documento. Pode ser um documento literário, um
documento legal ou um documento bíblico. O grande princípio é o seguinte: O
texto quer dizer aquilo que seu autor quis dizer. Portanto, a pergunta é:
"O que o autor quis comunicar quando ele escreveu?".
Devemos pensar sobre as palavras
e o que elas significaram quando ele as usou. Não podemos interpretar até
ouvirmos o que o autor quis dizer com suas palavras. Eu lhes imploro que não
omitam esse estágio da sua preparação. É uma disciplina essencial para cada um
de nós. Mas também não podemos parar aí.
Uma vez entendido o significado
do texto, vamos descobrir o que ele diz para nós hoje. Podemos pensar sobre as
pessoas em nossa congregação e nos perguntar: "o que o texto tem a dizer
para eles?". Nesses dois estágios não há qualquer substituto para o tempo.
Dê a si mesmo tempo para meditar.
Não corra para pegar os comentários cedo demais. Faça a sua meditação própria,
com a Bíblia aberta, de joelhos, usando a iluminação do Espírito, usando
a sua mente. Durante todo esse tempo vá escrevendo seus pensamentos. Não
precisa haver uma ordem particular para isso. Qualquer pensamento que venha à
sua mente é digno de ser escrito. Aqui chegamos, então, ao segundo estágio.
2º. Estágio - Isole o pensamento
dominante
Todo texto tem um tema principal.
Devemos meditar sobre ele até que esse princípio central surja.
- Qual é a ênfase principal da Palavra de Deus nesta passagem?
- O que Deus está dizendo neste texto?
Nosso dever é meditar e orar para penetrarmos neste texto; até que nos
submerjamos nele; até que ele passe a controlar a nossa mente e a colocar em
fogo nosso coração; e até que nos tornemos servos do texto.
Alguns pregadores não são servos,
mas senhores do texto. Eles torcem e manipulam o texto de modo a fazê-lo dizer
o que eles querem. Temos que nos arrepender quando fazemos isso com a Palavra
de Deus. Devemos permitir que a Palavra de Deus nos controle e não controlar a
Palavra de Deus.
3º. Estágio - Prepare o material
para ajudar o pensamento dominante
Há duas coisas que vão ajudar
nisto. A primeira é negativa e a segunda positiva.
Em primeiro lugar, seja
impiedoso em rejeitar o que é irrelevante. O que temos diante de nós até agora
é uma porção de idéias que, sem pensar, nós escrevemos e aqueles pensamentos
dominantes que já deixamos bem claros. Temos agora que colocar em ordem todo
esse material de modo que ele se subordine e siga o pensamento dominante.
Muitos de nós achamos essa tarefa
muito difícil. Talvez tenhamos idéias cintilantes, talvez tivemos pensamentos
abençoados que anotamos no papel e queremos arrastá-los para o sermão de
qualquer maneira. Não o faça! Tenha a coragem de deixá-los de lado. Eles se
tornarão úteis em alguma outra ocasião. Mas se eles agora não servem ao
pensamento dominante, deixe-os fora. Isso exige grande determinação mental.
Em
segundo lugar, devemos subordinar o material de modo que ele sirva ao tema. Isso
me leva a dizer algo sobre estrutura, palavras e ilustrações.
Todo sermão tem que ter uma
estrutura. Muitos pregadores, é claro, têm três pontos. É possível ter apenas
dois, ou quatro, ou até mesmo cinco, como acontece comigo agora. Mas é
impressionante a frequência com que nós voltamos aos três pontos. Há uma condição
que é essencial para uma boa estrutura: Ela deve ser natural e não artificial.
Alguns de vocês já devem ter
ouvido falar de Alexander Maclaren. Foi um grande pastor batista na lnglaterra,
no século passado. Algumas de suas exposições da Bíblia ainda são impressas
hoje. Ele era especialista nesta estrutura natural. Os amigos costumavam dizer
que ele guardava algo em seu bolso. Era um pequeno martelo dourado. Com esse
martelo dourado ele batia sobre o texto. À medida que ele batia sobre o texto,
esse se abria nas suas divisões naturais. É disto que todos nós precisamos: de
um martelinho dourado.
Mudando a metáfora, as divisões
do texto têm que se abrir como as pétalas de uma rosa abrindo-se ao sol. É
importante que dividamos a Palavra de Deus naturalmente, não impondo uma
estrutura artificial sobre o texto.
As palavras também são
extremamente importantes. Todos percebemos isso quando temos que mandar um
telegrama. Temos apenas 12 ou 15 palavras e passamos muito tempo preparando a
nossa mensagem de modo que nossas palavras não sejam mal entendidas.
Cremos que Deus Se deu ao mesmo
trabalho. Creio na inspiração verbal da Bíblia, ou seja, que a inspiração se
estendeu às mesmas palavras que Deus escreveu. Se as palavras foram tão
importantes para Deus, tem que ser importantes para nós.
Não estou sugerindo aqui que
leiamos os nossos sermões. Creio, porém, que é uma boa disciplina na nossa
preparação, que escolhamos bem as palavras que vamos usar para expressar os
nossos pensamentos. Além de exatas, as palavras têm que ser simples. Não tem
sentido falar como se tivéssemos engolido um dicionário.
Sejamos simples no nosso
palavreado e também vívidos, de modo que as palavras transmitam uma imagem
mental às pessoas que estão ouvindo. Quero particularmente exortar os
pregadores mais jovens a levarem bastante tempo escrevendo e preparando o
sermão. Só depois de termos feito isso durante cinco ou dez anos é que vamos
aprender a colocar os nossos pensamentos em palavras claras.
Agora, as ilustrações. Eu sei que
uma das minhas fraquezas na área da pregação é que não uso ilustrações
suficientes. A mesma coisa acontece com meus livros. Depois que um dos meus
livros havia sido publicado, um amigo me escreveu profundamente crítico quanto
àquela obra contendo tão poucas ilustrações: "Seu livro é como uma casa
sem janelas; é como um bolo sem frutas".
Achei que as observações do meu
amigo foram muito rudes, mas, infelizmente, elas eram bem exatas. Por isso
todos nós precisamos de ilustrações. Qual o propósito de uma ilustração? É
tornar concreto o que é abstrato.
Alguns minutos atrás eu escrevia
sobre meditação. “Meditação” é uma palavra abstrata. Muitas pessoas nem sabem o
que é meditação, de modo que eu tentei torná-la uma palavra concreta. Eu lhes
dei quatro imagens sob forma de palavras. Devemos ruminar o texto, como uma
vaca rumina o capim. Penetrá-lo, como um beija-flor penetra a flor.
Preocuparmo-nos com ele como o cachorro se preocupa com seu osso.
Passamos da vaca para o
beija-flor, do beija-flor para a criança, da criança para o cachorro. Cada uma
dessas coisas era uma imagem em sua mente. Eu usei essas ilustrações
deliberadamente, a fim de transformar o que era abstrato em algo concreto.
Há um provérbio oriental que
explica isso: “eloqüente é aquele que consegue transformar o ouvido em olho, de
modo que os seus ouvidos possam ver aquilo que ele fala”. Portanto, temos que
usar a nossa imaginação, para que as pessoas vejam o nosso pensamento.
Tradução: felipe Sabino de Araújo Neto
Fonte: Monergismo
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