segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

A Entrada Triunfal em Jerusalém | J. C. Ryle

Leia Lucas 19.28-40

Primeiramente, observemos nestes versículos o perfeito conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Nós O vemos enviando dois de seus dis­cípulos a uma aldeia e contando-lhes que, na entrada, encontrariam “preso um jumentinho que jamais homem algum montou”. Vemos o Senhor Jesus descrevendo o que os discípulos veriam e deveriam dizer; e Ele o fez com muita segurança, como se toda a transação tivesse sido previamente disposta. Em resumo, Jesus falou como alguém que via todas as coisas abertamente, alguém cujos olhos se encontravam em todo lugar, alguém que conhecia as coisas visíveis e as invisíveis.

Um leitor atento observará a mesma coisa em outras partes dos evan­gelhos. Certa passagem nos revela que Jesus conhecia “os pensamentos” de seus inimigos (Mt 12.25). Outra nos conta que Ele “mesmo sabia o que era a natureza humana” (Jo 2.25). E ainda outra passagem nos diz que Jesus “sabia, desde o princípio, quais eram os que não criam e quem o havia de trair” (Jo 6.64). Esse conhecimento é um atributo peculiar de Deus. Passagens bíblicas como essas têm o propósito de nos recordar que Jesus Cristo não foi apenas homem, mas, também, “Deus bendito para todo o sempre” (Rm 9.5).

O pensamento sobre o perfeito conhecimento de Cristo deveria alarmar os pecadores e despertá-los ao arrependimento. O grande Cabeça da Igreja conhece todos eles e o que estão fazendo. O Juiz de todos os vê constantemente e registra todo os seus atos. “Não há trevas nem sombra assaz profunda, onde se escondam os que obram a iniquidade” (Jó 34.22). Se escondem-se em lugares secretos, os olhos de Cristo ali os contempla. Se, em particular, tramam perversidade e planejam impiedade, o Senhor Jesus sabe e os observa. Se eles falam em segredo contra o justo, Cristo os escuta. Durante toda a sua existência, podem enganar os homens, mas não podem enganar a Jesus. Virá o dia em que Deus julgará, “por meio de Cristo Jesus... os segredos dos homens, de conformidade com o evangelho” (Rm 2.16).

O pensamento sobre o perfeito conhecimento de Cristo deveria confortar todos os verdadeiros crentes e incentivá-los a crescerem diligentemente em boas obras. Sobre eles estão sempre os olhos do Senhor. Ele sabe quais as circunstâncias que envolvem os crentes, suas provações diárias e conhece as pessoas com quem eles andam. Não há uma palavra em seus lábios, ou um pensamento em seus corações, que Jesus não saiba completamente. Eles devem sentir-se encorajados, quando forem caluniados, mal entendidos e deturpados pelo mundo. Não importa o que as pessoas incrédulas são capazes de dizer, o Senhor sabe “todas as coisas” (Jo 21.17). O verdadeiro crente precisa andar resolutamente no caminho estreito, não se desviando para a direita ou para a esquerda. Quando os pecadores tentam induzi-lo e crentes fracos dizem: “Poupe a si mesmo”, o verdadeiro crente deve responder: “Meu Senhor está olhando para mim. Desejo viver e comportar-me como alguém que está sob o olhar de Cristo”.

Observemos também nestes versículos a publicidade da última entrada de nosso Senhor em Jerusalém. O evangelho nos conta que o Senhor Jesus montou sobre um jumentinho e entrou em Jerusalém, como se um rei estivesse visitando sua capital ou um conquistador retornasse em triunfo à sua terra natal. E, uma grande “multidão” o acompanhava, quando Ele entrou na cidade, e passou, “jubilosa, a louvar a Deus em alta voz”. É uma história diferente do teor geral da vida de nosso Senhor. Em outras ocasiões, nós O vemos evitando a observação pública, retirando-se para o deserto e ordenando aos que haviam sido curados por Ele que não o contassem a ninguém. Nesta ocasião, tudo aconteceu de maneira diferente. Ele abandonou por completo a privacidade e pareceu cortejar a observação do público. Parecia desejoso de que O vissem e observassem o que Ele estava fazendo.

Os motivos que justificam a conduta de nosso Senhor no clímax de seu ministério, à primeira vista, parecem difíceis de ser descobertos. Através de paciente meditação, eles se tornam claros e óbvios. Ele sabia que chegara o tempo em que deveria morrer pelos pecadores, na cruz. No que se refere ao seu ministério terreno, sua obra como grande Profeta estava quase terminada e completa. Sua obra como o sacrifício pelo pecado e como Substituto dos pecadores ainda estava por ser realizada. Antes de entregar-se como sacrifício, Ele desejava atrair para Si mesmo a atenção de toda a nação dos judeus. O Cordeiro de Deus estava para ser morto. A grande oferta pelo pecado estava para ser imolada. Era conveniente que os olhos de todos os judeus estivessem fixos nEle. A grandiosa obra não se realizaria sem notoriedade.

Devemos sempre bendizer a Deus porque a morte de nosso Senhor Jesus Cristo foi um acontecimento tão público e tão amplamente conhecido. Se Ele tivesse sido apedrejado em algum tumulto popular, ou decapitado na prisão, assim como João Batista, nunca faltariam judeus e gentios incrédulos negando que o Filho de Deus havia morrido. A sabedoria divina dispôs as coisas de tal modo que a negação do fato se tornou impossível. Não importa o que os homens pensem sobre a doutrina da morte expiatória de Cristo, eles jamais poderão negar o fato de que Cristo morreu. Publicamente, Ele se dirigiu a Jerusalém alguns dias antes de sua morte e, por um grande público, foi visto e ouvido na cidade até ao dia em que foi traído. Aos olhos de muitas pessoas, Ele foi trazido diante dos principais sacerdotes e de Pilatos; foi condenado, levado ao Calvário e crucificado. A pedra angular e o clímax do ministério de nosso Senhor foram sua morte pelos pecadores. De todos os eventos de seu ministério, a morte foi a mais pública e testemunhada por grande número de judeus. E aquela morte era a “vida do mundo” (Jo 6.51).

Esta passagem deve produzir em nós o estimulante pensamento de que a alegria dos discípulos de Cristo, por ocasião de sua entrada em Jerusalém, ao vir para ser crucificado, não é nada se comparado à alegria que seu povo desfrutará, quando Ele vier para reinar. Aquela primeira alegria logo se desfez, transformando-se em tristeza e amargas lágrimas. A segunda alegria não estará sujeita a qualquer interrupção. A segunda alegria será regozijo para todo o sempre. A primeira alegria frequentemente foi interrompida pela severa zombaria dos inimigos de Cristo, que planejavam perversidade. A segunda alegria não estará sujeita a qualquer interrupção. Nenhuma palavra será proferida contra o Rei, quando pela segunda vez Ele vier a Jerusalém — “Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho... e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor” (Fp 2.10­-11).

Por: J. C. Ryle 

Meditações no Evangelho de Lucas 

Editora Fiel 


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